Entrevista com Raul Velloso, um dos maiores
especialistas do País em contas públicas.
Qual a média das aposentadorias e pensões dos
servidores públicos e dos trabalhadores da iniciativa privada?
Fiz um estudo sobre isso. No Brasil, a média das
aposentadorias e pensões pagas a 4,2 milhões de servidores dos estados, das
prefeituras e da União é de R$ 5.108. Já a média paga pelo INSS a seus 28,3
milhões de aposentados e pensionistas é de R$ 1.356. A diferença é muito
grande.
Essa diferença justificaria o aumento da
contribuição previdenciária dos servidores públicos?
Os grandes números estão no setor público. É
sobre o setor público, portanto, que é preciso ter um olhar mais crítico.
Uma das propostas do governo do Rio é que os
outros poderes (Judiciário e Legislativo) contribuam para os seus inativos.
Como seria isso?
O que ocorre hoje é que o Executivo, o
Legislativo e o Judiciário do Estado do Rio contribuem, como empregadores, para
a Previdência do pessoal ativo (transferem o correspondente a 22% dos salários,
ou seja, o dobro do desconto dos funcionários). No caso dos inativos, só o
Executivo contribui com os 22%. Mesmo assim, a educação e a saúde ficam fora e
nada pagam pelos seus inativos. O que se defende é que todos contribuam, como
empregadores, para os seus aposentados. É uma questão de isonomia.
A ideia é que a contribuição previdenciária da
saúde e da educação seja computada como despesa nos gastos constitucionais
obrigatórios com os dois setores. Isso não reduziria muito os investimentos em
saúde e educação?
As áreas de educação e saúde têm que contribuir
também para os seus aposentados, assim como o Judiciário e o Legislativo. O
modelo da previdência está errado. Precisa ser corrigido. (Segundo dados do
deputado Luiz Paulo Corrêa da Rocha, do PSDB, com a crise financeira do estado,
sequer o mínimo constitucional tem sido aplicado em saúde e em educação.
Relatório de agosto revela que, de setembro de 2015 a agosto último, o governo
do Rio aplicou apenas 7% das receitas de tributos e transferências em saúde,
quando a Constituição determina 12%. No caso da Educação, em um ano o estado
aplicou 22,65%, quando o obrigatório é 25%).
Há a intenção de criar um novo fundo
previdenciário. Como seria esse fundo?
A previdência do Estado do Rio já tem um fundo.
Nisso, o Rio está mais avançado que outros estados. O que se precisa é engordar
o fundo do Rio, com a securitização de ativos. Ou seja, com aluguéis e venda de
imóveis e ações.
Outra questão que o Estado do Rio defende é o
aumento da idade mínima para a aposentadoria dos seus servidores. De quanto
seria essa idade mínima?
Todo mundo vai ter que ceder um pouco. Não tem jeito.
O fundamental é reduzir as vantagens das aposentadorias especiais (concedidas a
policiais e professores, por exemplo). Não é acabar com essas aposentadorias,
mas adequá-las.
G1