Os ganhos somados aos
benefícios pagos aos profissionais de entidades fechadas de previdência
complementar registraram variação positiva média de 10,4% no período entre maio
de 2015 e janeiro de 2017. Apresentada no 13º Encontro Nacional dos
Profissionais de Recursos Humanos da Previdência Complementar Fechada,
evento de dois dias promovido pela Abrapp e patrocinado pelo NUBE - Núcleo
Brasileiro de Estágios, a pesquisa “Remuneração Total”, realizada pela
Associação com a assessoria da Korn Ferry Hay Group, mostra que o aumento ficou
pouco abaixo do INPC do período, que marcou 13%. Apesar de não alcançar a
inflação, o percentual foi considerado por especialistas do mercado de
trabalho como bastante satisfatório, considerando as dificuldades que a
economia brasileira enfrenta.
O encontro de RH no qual
os resultados da pesquisa foram apresentados foi aberto no início da tarde
dessa quinta-feira (8) com o Diretor Executivo Manoel Morais de Araújo
associando o evento ao planejamento estratégico da Abrapp. “O engajamento dos
profissionais de recursos humanos na política de fomento do sistema é um
objetivo estratégico central”, resumiu Araújo.
Apresentação da pesquisa
salarial -
Durante a apresentação da pesquisa, foi possível comparar os números praticados
pelas EFPCs com os de outros setores da economia, muitos deles menos exigentes
quanto à mão de obra que empregam, ficando claro que o reajuste médio dos
salários e benefícios de executivos e analistas de entidades fechadas ficou
acima da média, em razão da especificidade do trabalho que nelas se
desenvolve, algo a exigir pessoal com formação técnica diferenciada.
No caso do grupo formado
por setores que a Hay acompanha mais de perto, formado por empresas da
indústria, comércio e serviços, houve aumento de apenas 4,5% no mesmo período.
“A variação do segmento previdência complementar fechada ficou acima do
restante dos setores da economia, afetados pela forte recessão”, explica Carlos
Silva, Diretor de Análise de Mercados da Korn Ferry Hay Group e responsável
pela pesquisa.
Investir na qualificação - O consultor explica que
o nível de remuneração das entidades foi preservado devido ao baixo turn over
(rotatividade), algo explicável pelo alto grau de especialização do trabalho
desenvolvido pelos profissionais em suas entidades. Substituí-los seria algo
por demais oneroso, em razão do treinamento requerido. Apenas 25% das entidades
pesquisadas tiveram no período redução de quadros, enquanto outras 25% os
mantiveram estáveis. Outras 50% registraram aumento do número de funcionários.
“Já as empresas em geral estão apresentando forte rotatividade. Na hora de
recontratar, acabam fazendo com menores salários”, explica o Coordenador da
Comissão Técnica Nacional de Recursos Humanos da Abrapp e Gerente de RH da
Forluz, Wuederson Ferreira da Silva.
Além disso, muitos acordos
coletivos das empresas com os sindicatos acabam resultando em reajustes
abaixo da inflação. “O resultado da pesquisa mostra que as entidades estão
concedendo reajustes próximos da inflação, o que não acontece com a média do
restante do mercado”, diz o Coordenador da CTN. Com a manutenção de uma
remuneração competitiva, as entidades conseguem atrair e manter profissionais
qualificados em seus quadros, com baixo nível de rotatividade.
“Temos conseguido manter
uma remuneração competitiva com o mercado, inclusive quando comparamos com
assets e demais instituições financeiras. Além dos salários compatíveis, muitas
entidades também têm oferecido políticas consistentes de benefícios e bônus”,
conta Wuederson. O dirigente cita que 63% das pesquisadas possuem incentivos de
curto prazo, ante 37% que não oferecem. O Coordenador da CTN reforça a
importância das políticas de prêmios como maneira de manter a competitividade e
a motivação dos profissionais do segmento previdência complementar fechada.
Aumento na participação – O levantamento obteve
presença recorde de 116 entidades que enviaram informações para a pesquisa. Na
última edição de 2015 tinham sido 103. O aumento foi mais expressivo em algumas
regionais da Abrapp, como por exemplo a Sudoeste (São Paulo) com nove novas
entrantes; Sudeste (Rio de Janeiro), com sete; e Nordeste, com seis.
O aumento foi
significativo entre as fundações menores (Porte 1), que cresceram em presença
de 2% há dois anos para 6% agora - de 2 para 7 pesquisadas. As entidades de
porte 3 também se tornaram mais presentes, de 42% em 2015 para 46% em 2017 - de
43 para 53 pesquisadas. Entre as pesquisadas de Porte 2 e Especial (maiores),
os números se mantiveram estáveis. Isso mostra de forma muito concreta como a
pesquisa, oferecida pela Abrapp sem ônus ao seu quadro associativo, benefia
associadas de todos os portes, inclusive as menores.
Mulheres nos conselhos – Os resultados da
pesquisa de 2017 trouxeram algumas novidades importantes. Uma delas foi o
levantamento de dados quantitativos sobre os conselheiros das entidades
fechadas. Uma surpresa positiva foi a presença de 19% de mulheres como
integrantes dos conselhos, ante uma presença de apenas 11% nas empresas em
geral.
“É um ponto positivo
contar com maior presença de mulheres em cargos diretivos que a média do
mercado”, diz o Diretor da Korn Ferry, Carlos Silva.
A pesquisa mapeou também a
remuneração dos conselheiros e mostrou que não há diferenças expressivas entre
os ganhos de presidentes dos conselhos e demais membros.
Metodologia – Desde o levantamento
anterior, realizado há dois anos, a consultoria vem utilizando uma nova metodologia
de grades (níveis). “Nossa metodologia permite a comparação por níveis e não
por cargos, evitando distorções nas análises”, explica Carlos Silva. O
consultor comenta que o sistema permite maior comparabilidade, independente do
tamanho da entidade, uma vez que o que é considerado de fato é o que a pessoa
faz e suas responsabilidades e não a nomenclatura do cargo em si.
Como exemplo, o
especialista cita que não é adequado comparar a remuneração de um gerente de
investimentos de uma entidade com patrimônio de R$ 100 milhões com o
profissional de mesmo cargo de uma fundação com R$ 10 bilhões. Por isso, neste
caso, apesar de estarem nos mesmos cargos, aparecem em níveis diferentes na
pesquisa da Abrapp. “Com a nova metodologia é possível mapear e comparar
todos os cargos das pesquisadas”, comenta o consultor.
Mudar é a nova regra - “Se sua organização
ainda não se transformou, fique certo de que ela ainda vai mudar e continuará
se transformando depois disso, em um processo de mudanças sem fim”, observou
Carlos Alberto Fernandes da Silva, Gerente de Projetos da Korn Ferry -
Hay Group, ao falar no painel de abertura do evento de profissionais de RH,
dedicado ao tema “Cenário Socioeconômico - Como Conciliar Nova Geração,
Novas Tecnologias e Escassez de Recursos”. Ele iniciou advertindo que a ameaça
trazida pelo novo “pode vir de qualquer canto, sendo que mesmo pequenos podem
ameaçar os grandes”.
Fernandes, citando
pesquisa recém divulgada pelo Boston Consulting Group (BCG), apontou algumas
tendências: 74% de líderes empresariais ouvidos disseram que a complexidade
atrapalha os seus negócios, de maneira que simplificar no que for possível é
cada vez mais uma exigência; 90% acreditam que agilidade na resposta da
organização faz uma grande diferença no resultado final; formar equipes em que
haja ao menos um pouco de diversidade em sua composição (diferenças de idade,
cultura, raça e sexo) pode trazer melhores resultados; a comunicação deve ser
transparente e as práticas precisar ser coerentes com o discurso; as relações
de trabalho e as formas de remuneração estão mudando e as novas gerações podem
aceitar tais mudanças com mais tranquilidade, como a vinculação de trabalho por
projeto.
A simples observação das
estatísticas relativas ao desemprego poderiam estar a indicar que, para os
profissionais de RH, hoje é mais fácil contratar e reter profissionais do que
foi no passado. Mas, notou Fernandes ao finalizar, a realidade não confirma
isso: pesquisa de 2017 indica que perto de 80% das organizações encontram
dificuldade em encontrar pessoas com as competências e habilidades que
gostariam. “Está difícil casar as demandas dos contratantes com a oferta de mão
de obra existente no mercado”, resumiu, fornecendo um dado a mais: “30% dos
cargos técnicos hoje não são preenchidos por falta de capacitação dos
candidatos”.
O tipo da informação que, aliás, ajuda a entender melhor a política de
remuneração e valorização dos recursos humanos das entidades revelada na
pesquisa salarial.
Diário das Entidades Fechadas de Previdência Complementar