GUERRA NA UCRÂNIA


Ligações pessoais entre empresas alemãs e russas viram problema.

As consequências econômicas da guerra da Ucrânia são apenas parte do problema para as companhias europeias

Quanto Peter Fenkl ouviu que a Rússia tinha invadido a Ucrânia, disse que a primeira coisa em que pensou não foi nos negócios que sua empresa alemã poderia perder nos dois países, mas nos empregados que ele tem na região e que se tornaram mais do que colegas ao longo de anos de transações e drinques compartilhados.

"Eram mais do que relacionamentos de negócios, e se tornaram verdadeiras amizades", disse Fenkl, presidente-executivo de uma empresa que fabrica ventiladores industriais. 

"Nós participávamos juntos de reuniões, saíamos para tomar cerveja."

A empresa familiar que ele dirige, a Ziehl-Abegg, tem 4.300 empregados, e Fenkl recorda como equipes da Alemanha, Rússia e Ucrânia trabalhavam lado a lado, em viagens de negócios e visitas a feiras comerciais nas quais a Ziehl-Abegg exibia seus produtos.

Agora, os quatro empregados da empresa na Ucrânia foram convocados para defender seu país

Na Rússia, onde a empresa tem uma unidade de produção e emprega 30 pessoas, os negócios pararam completamente.

Fenkl disse que já falou diversas vezes com o gerente da empresa na Rússia, nos últimos sete dias, tentando descobrir como proceder, à medida que a gravidade da situação ia se tornando mais clara.

"Liguei duas vezes para meu colega na Rússia e ele não conseguiu falar", disse Fenkl. "Caiu no choro".

Empresas da Alemanha fazem muito mais negócios na Rússia do que qualquer outro país da União Europeia, exportando bens que ultrapassaram 26 bilhões de euros (R$ 143,8 bilhões) no ano passado (a Polônia ocupa o segundo lugar da lista, com oito bilhões de euros) e investiram 25 bilhões de euros em operações lá. 

Esse envolvimento na economia russa reflete, em parte, o espírito adotado pela antiga Alemanha Ocidental quando a Segunda Guerra Mundial terminou –o de que o comércio garantiria a paz e impediria a Europa de decair a uma nova guerra.

Nem todas as empresas alemãs estão saindo. 

A Metro, uma atacadista de alimentos que opera 93 lojas na Rússia, onde teve 2,4 bilhões de euros (R$ 13,2 bilhões) em receita no ano passado, anunciou que havia decidido manter as operações, por preocupação quanto à possibilidade de que suspendê-las prejudicasse o abastecimento de alimentos para a população. 

"Nenhum de nossos 10 mil empregados na Rússia é pessoalmente responsável pela guerra na Ucrânia", a empresa anunciou em comunicado.



NEW YORK TIMES
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