Apesar do sólido crescimento mundial, analistas de
política econômica reunidos recentemente para o Panorama Econômico Mundial, em
Washington, pareceram pessimistas
De acordo
com uma série de critérios, o momento atual é muito bom para a economia global.
Pela primeira vez em uma décadas, quase todas as principais regiões do planeta
apresentam simultaneamente crescimento e prosperidade sólidos.
Mas alguns
dos principais responsáveis pelas políticas econômicas mundiais, reunidos
recentemente em Washington, pareciam pessimistas. “O bom momento atual não vai
durar muito", disse Maurice Obstfeld, economista-chefe do Fundo Monetário
Internacional, apresentando as mais recentes projeções da organização, que
prevê uma expansão de 3,9% na economia global em 2018.
Christine Lagarde,
diretora administrativa do FMI, disse que “momentos mais difíceis” estão no
futuro da economia global Foto: Lawrence Jackson/The New York Times
Ou, nas
palavras da diretora administrativa do FMI, Christine Lagarde, “o panorama
global atual é positivo, mas vemos pela frente momentos mais difíceis".
O
pessimismo entre os economistas pareceu contrastar com os mercados financeiros.
Apesar da turbulência nos meses mais recentes, as ações e a maioria dos demais
ativos financeiros ainda apresentam preços que indicam que o crescimento deve
manter o ritmo atual por algum tempo.
“Os economistas
são pagos para se preocupar", disse Nathan Sheets, economista-chefe da
PGIM Fixed Income. “Me parece que os mercados, por outro lado, sabem aproveitar
o momento.”
Qual é a
preocupação desses especialistas? Será que se trata apenas de um grupo de economistas
comprovando o estereótipo segundo o qual sua área é a ciência da tragédia, ou
pior, deixando que suas próprias preferências de política econômica definam os
contornos de suas previsões? Será que a economia mundial corre perigo?
Endividamento alto, juros baixos
Em vez de
usar esse período de estabilidade e prosperidade para quitar dívidas, algumas
das maiores economias estão avançando na direção oposta. Os níveis de
endividamento público estão aumentando nos EUA, e o endividamento privado é
alto na China. Essa dependência em relação ao crédito significa que, quando
chegar o próximo declínio, os governos terão uma margem menor para lidar com a
crise recorrendo ao aumento dos gastos públicos.
E, com os
juros ainda baixos, uma das ferramentas normais para enfrentar uma recessão
teve sua utilidade limitada. O Federal Reserve (banco central americano) entrou
no mais recente declínio com a taxa de juros de curto prazo em 5,25%, antes de
cortá-la para quase zero já em dezembro de 2008.
Agora, essa
taxa básica está entre 1,5% e 1,75%. O Banco Central Europeu tem ainda menos
espaço de manobra, com juros ainda próximos do zero.
As pessoas que alcançam os cargos de principais
responsáveis pelas políticas econômicas tendem a se preocupar muito com aquilo
que pode dar errado, mas, sem dúvida, as boas notícias econômicas do momento
são acompanhadas por alertas que devem ser ouvidos.
O ESTADO DE SÃO PAULO