Pandemia nos deixou insones, estressados e
propensos aos vícios.
A
forma com que os governos da região trataram a crise sanitária não nos deixará
tranquilos tão cedo.
Uma das suposições consagradas por conta da pandemia é que a mesma deixou uma marca
no estado de ânimo e nos hábitos de saúde dos habitantes do planeta, incluindo
os latino-americanos.
Junto com o exército de infectologistas e
autoridades sanitárias que povoaram os meios de comunicação, também foram
mobilizados inúmeros diagnósticos, alertando sobre o impacto da propagação do
vírus e das práticas defensivas individuais ou domésticas para o humor social e
a saúde pública.
Ali, as pesquisas de opinião desempenharam um papel
essencial como termômetro capaz de traduzir algumas das principais
predisposições e preocupações das sociedades e que nos permitem entender o que nos aconteceu.
Por exemplo, mais de um em cada quatro adultos do planeta fumava
muito ou com alguma regularidade em 2018 e três anos depois, em meio aos
confinamentos, essa porcentagem, ao invés de aumentar, caiu ligeiramente.
O
mesmo aconteceu com a ingestão de bebidas alcoólicas: caiu de 43% no período
pré-pandêmico para pouco menos de 38% durante os tempos de Covid-19.
O estresse também não manifestou piora como esperado: um ano e
meio antes da declaração de confinamento estava em torno de 30%, no auge das
quarentenas não alcançou 33%, uma variação próxima à margem de erro das
pesquisas.
Por último, a autopercepção da saúde pessoal
também não mudou: era de 76% no final da década passada e entre 77%-79% em
2020-2021.
Fumar, por exemplo, caiu de quase 30% em 2018
para 20% em 2021. Beber álcool caiu de 45% em 2018 para 42% três anos depois.
Dormir mal também seguiu uma direção de queda, não de aumento. A sensação de
vigor físico diminuiu apenas ligeiramente e a de estresse aumentou com a
pandemia, ainda que com sutileza.
Na Argentina, por exemplo, houve um forte
aumento no consumo de bebidas alcóolicas e uma duplicação da taxa de estresse,
de 22% em 2018 para 42% em 2021.
De fato, as contradições e incoerências abertas na
gestão da pandemia por parte de Jair Bolsonaro no Brasil isentaram seus
cidadãos de práticas repressivas como na Argentina, Chile ou Peru, mas os
expuseram aos riscos de comportamentos privados imprudentes, que estenderam a
insegurança entre a maioria de seus habitantes.
Neste marco, os brasileiros estão entre os poucos
que viram diminuir o número de pessoas sedentárias entre 2018 e 2021, bem como
a sensação de estresse, embora tenham aumentado suas dificuldades para dormir
com a maior oscilação negativa na região.
FOLHA DE SÃO PAULO