A Polícia Federal realizou ontem a
Operação Greenfield, que atingiu os quatro maiores fundos de pensão estatais
brasileiros - Petros (Petrobrás), Funcef (Caixa), Previ (Banco do Brasil) e
Postalis (Correios). Autorizada pela Justiça do Distrito Federal, a operação
bloqueou R$ 8 bilhões dos investigados, entre eles ex-dirigentes de
empreiteiras, como OAS e Engevix, ex-administradores dos fundos e proprietários
de grandes empresas. A operação investiga "gestão temerária e
fraudulenta" nos fundos patrocinados pelas estatais.
Até a conclusão desta edição, cinco
pessoas haviam sido presas temporariamente e 28 conduzidas coercitivamente -
quando o investigado é levado a depor pela autoridade policial -, entre elas os
empresários Wesley Batista, da J&F, Eugênio Staub, da Gradiente, Gerson
Almada, da Engevix, e Walter Torre, da WTorre. Joesley Batista, da J&F,
também tem um mandado de condução coercitiva em seu nome, mas não compareceu
porque está no exterior. Ele informou que vai se apresentar às autoridades
assim que chegar ao País. Por se tratar de uma investigação de primeira
instância, a Greenfield não apontou a participação de políticos.
Porém, o PT e o PMDB influenciaram na
escolha dos dirigentes das entidades quando os investimentos suspeitos foram
feitos. Desde o início do governo Luiz Inácio Lula da Silva, os fundos de
pensão se tornaram o segundo maior financiador de infraestrutura do País, atrás
apenas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Nos 13
anos de gestão petista, Previ, Funcef e Petros, majoritariamente, eram controladas
pelo PT e o Postalis, pelo PMDB. Alguns desses aportes começaram a ser
investigados ainda na Operação Lava Jato, como a Sete Brasil, empresa criada
para fornecer as sondas para a Petrobrás e que entrou em recuperação judicial.
Petros, Funcef e Previ são sócias da
Sete. A casa do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto - que cumpre prisão na
Lava Jato - foi alvo de mandado de busca e apreensão e três imóveis dele foram
sequestrados pela Justiça. Segundo os investigadores, ele teria negociado a
aprovação de um investimento do Funcef em um fundo da OAS Empreendimentos,
"em detrimento do patrimônio" do fundo de pensão da Caixa Econômica
Federal. Também foram alvo de condução coercitiva os ex-presidentes dos fundos
Postalis Alexej Predtechensky, Previ Sérgio Rosa e Petros Carlos Fernando
Costa.
FIPs. Em despacho no qual autorizou as
medidas contra 40 pessoas, o juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10.ª Vara
Federal do Distrito Federal, disse que a investigação mostrou que parte dos
fundos de pensão adquiriu cotas em fundos de investimentos por participação
(FIPs) com base em avaliações econô- mico-financeiras irregulares. No
entendimento dos investigadores, o "objetivo real" das avaliações era
superestimar o valor dos ativos das empresas destinatárias dos aportes de modo
a aumentar, de forma artificial, a quantia a ser investida pelo fundos de
pensão. Na prática, apontou o juiz, o esquema era parecido com o de
superfaturamento em obras pú- blicas. "Os fundos pagavam pelas cotas do
FIP mais do que elas de fato valem, sofrendo um prejuízo "de
partida", independente do próprio sucesso que venha a empresa a ter no
futuro."
Segundo a PF, a investigação tem como
alvo dez casos revelados com base na análise das causas dos déficits
bilionários apresentados pelos fundos de pensão. Desses dez casos, oito são
relacionados a investimentos por meio dos seguinte FIPs: Cevix, Multiner,
Sondas, OAS Empreendimentos, Enseada, RG Estaleiros, Florestal e Global Equity.
Além dos FIPs, são alvo da investigação a compra por Previ, Petros e Funcef de
cotas na Invepar e o prejuízo sofrido pela Funcef na alienação subfaturada de
salas comerciais no edifício da OAB no Distrito Federal. São investigadas 38
pessoas jurídicas e 74 pessoas física
Entre elas estão o banco Santander, a
J&F (holding da JBS), as empreiteiras OAS, Engevix e WTorre, a Gradiente, a
Invepar, a Rio Bravo, a Brookfield, a massa falida do banco BVA, a BRAM e BEM
DTVM (Bradesco) e as consultorias R.S e Lakeshore. Dos sete mandados de prisão
temporária expedidos, cinco foram cumpridos: Carlos Augusto Borges, Demósthenes
Marques, Guilherme Lacerda e Mauricio Marcelini, do Funcef, e Humberto Viana,
da Petros. Carlos Alberto Caser e Fabio Maimoni, do Funcef, eram considerados
foragidos.
Os quatro fundos de pensão alvo da
Operação Greenfield respondem por 62,6% do rombo acumulado de todo o sistema em
2015. Juntos, Funcef, Petros, Previ e Postalis registraram déficit de R$ 48,7
bilhões. Em 2015, a Petros registrou déficit de R$ 22,6 bilhões; Previ, R$ 16,1
bilhões; Funcef, R$ 8,8 bilhões; e Postalis, R$ 1,2 bilhão, segundo a
Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc). A Greenfield
foi realizada de forma conjunta entre Polícia Federal, Ministério Público
Federal, Previc e Comissão de Valores Mobiliários (CVM). / M.R.A
PT indicou dirigentes da Previ e do Petros
O fundo de pensão dos funcionários da
Petrobrás, Petros, esteve sob o comando direto de sindicalistas do PT, de 2012
a 2014, período em que foram tomadas decisões de investimento consideradas de
alto risco e de retorno financeiro duvidoso. Segundo fontes do Conselho
Deliberativo, órgão administrativo máximo da fundação, a Petrobrás foi
pressionada nos últimos anos para que a diretoria da Petros fosse escolhida
pelos empregados, em votação interna. Essa seria uma tentativa de despolitizar
a instituição.
A proposta chegou a ser levada ao
Conselho de Administração da estatal, mas nunca avançou por esbarrar na
resistência de líderes petistas ligados à CUT. Hoje, o fundo é comandado por
Walter Mendes Júnior, que, no mês passado, renunciou a uma cadeira no Conselho
de Administração da estatal para assumir a Petros. Com passagem pelo Itaú
Unibanco e por fundos estrangeiros de investimento, Mendes Júnior é reconhecido
pelo mercado financeiro como um executivo de perfil técnico.
Ele foi indicado pelo atual presidente
da Petrobrás, Pedro Parente. Já a Previ teve nos últimos anos em seu comando
quatro presidentes: Sérgio Rosa, Ricardo Flores, Dan Conrado e Gueitiro Genso.
Ex-sindicalista e diretamente ligado ao PT, Rosa presidiu o maior fundo de
pensão do País por dois mandatos, desde o início do governo Lula, em 2003, até
2010. Apesar de petista fiel, o executivo era considerado muito autônomo e
técnico para os padrões do Planalto à época.
Rosa não conseguiu fazer seu sucessor
na Previ. Depois dele passaram a comandar o fundo nomes de perfil técnico. O
primeiro foi Ricardo Flores, que acabou saindo por decisão de Dilma Rousseff,
após uma queda de braço com o então presidente do Banco do Brasil, Aldemir
Bendine. Depois de Flores assumiram Dan Conrado e, no ano passado, Genso, ambos
sem fortes ligações políticas.
O Estado de S. Paulo