Por que donos de empresas geralmente pagam menos
impostos do que seus funcionários no Brasil.
Dados mostram que
conjunto de regras tributárias do país penaliza os mais pobres.
"Eu, como CEO
da companhia, pago menos imposto do que um operador de caixa da minha empresa.
Isso é uma vergonha."
Foi com essa
comparação que o empresário Sergio Zimerman defendeu, em entrevista ao jornal O
Estado de S. Paulo na segunda-feira (7), uma reforma do sistema
tributário brasileiro.
Com o exemplo
pessoal, o fundador da rede de pet shops Petz argumentava que a ênfase na
cobrança de impostos sobre o consumo —em vez da renda ou do patrimônio, por
exemplo— concentra riqueza.
De fato, os mais
pobres no Brasil pagam proporcionalmente mais impostos do que os mais ricos.
Essa é uma dinâmica que vai no sentido contrário do que diz a Constituição,
segundo a qual, "sempre que possível, os impostos serão graduados segundo
a capacidade econômica do contribuinte" (Artigo 145).
Ou seja, quem ganha
mais deveria pagar mais.
O PESO DA
TRIBUTAÇÃO INDIRETA SOBRE OS MAIS POBRES
Um exemplo prático:
um brasileiro que recebe um salário mínimo por mês e um milionário que compram
um xampu de R$ 20 em um supermercado pagam os mesmos 44,2% em impostos sobre o
valor do produto, segundo o IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento
Tributário).
Nessa situação, em proporção da renda mensal, o mais pobre
desembolsa mais do que o mais rico.
A distorção fica
visível em trabalhos como o publicado neste ano pelos pesquisadores do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Felipe Moraes Cornelio, Theo
Ribas Palomo, Fernando Gaiger Silveira e Marcelo Resende Tonon.
O cálculo do
impacto da incidência desses impostos sobre a renda das famílias mostra que os
10% mais pobres pagam o equivalente a 21,2% da renda em "tributos
indiretos".
Para os 10% mais
ricos, os tributos indiretos representam um percentual significativamente menor
da renda total, 7,8%, levando em consideração a renda familiar per capita.
O sistema de
tributação do consumo do país, na avaliação de Rita de la Feria, é "um dos
piores do mundo".
A especialista, que
trabalhou na reforma tributária de Portugal entre 2010 e 2011 e depois
acompanhou a de países como Angola, Moçambique, Uzbequistão e Albânia como
consultora do FMI (Fundo Monetário Internacional), segue de perto o debate no
Brasil.
Esteve em 2020 em uma audiência no Congresso como convidada na Comissão
Mista da Reforma Tributária e diz esperar voltar a discutir o assunto em breve.
FOLHA DE SÃO PAULO