Médicos devem abordar espiritualidade nas
consultas, orienta Sociedade de Cardiologia do Estado de SP.
Gratidão
melhora a evolução de insuficientes cardíacos, enquanto solidão e isolamento
aumentam a mortalidade em geral, segundo estudos.
Manter a saúde do coração em dia significa ir além
das tradicionais orientações médicas, como não beber e nem fumar, evitar
estresse, controlar colesterol, praticar atividade física.
Ações e pensamentos
influenciam na cura e prevenção das doenças cardíacas.
A afirmação é do cardiologista Álvaro Avezum,
cientista, diretor da Socesp (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo) e
coeditor da revista da entidade, que traz em suas páginas o tema
“Espiritualidade, Cardiologia Comportamental e Social”, para orientar os
cardiologistas na abordagem do assunto com seus pacientes.
Enfrentar de forma positiva as situações adversas
do cotidiano, usar sentimentos construtivos e edificantes nos relacionamentos
(conjugal, familiar, trabalho e sociedade), tornar-se grato, mais altruísta,
ter atitudes solidárias e perdoar não só evitam os males do coração como
melhoram a enfermidade se esta já existe, afirma.
Em 2016, em uma lista de 3.216 pesquisadores,
Avezum estava entre os quatro cientistas brasileiros com produção acadêmica de
maior impacto no mundo.
De acordo com o cientista, estudos epidemiológicos
feitos na América do Norte associaram a prontidão à raiva ao diabetes e à insuficiência cardíaca.
Segundo
Avezum, no Brasil, nos últimos dez anos, vem crescendo o número de escolas
médicas que colocaram na grade curricular o tema saúde e espiritualidade; nos EUA, aproxima-se de 90%.
“Acredito
que o alcance da espiritualidade como ferramenta para prevenir adoecimento
deverá ter impacto maior em nosso país do que em outros e ainda serviremos de
exemplo”, diz o cientista.
Espiritualidade
não é necessariamente religião, mas o conjunto de pensamentos, reações e
atitudes nos relacionamentos que sejam passíveis de mensuração.
“Na
primeira consulta, num determinado momento, você deve perguntar sobre
estresse, ansiedade e depressão. Neste ambiente,
pode dar continuidade e investigar como funcionam as situações de perdão e
gratidão no seu dia a dia. Se ele permitir, você aprofunda”, orienta.
O
cardiologista pode mostrar ao paciente como conduzir sua vida de forma leve e
consciente em relação aos sentimentos, além de indicar caminhos terapêuticos em
paralelo ao tratamento convencional, como meditação e relaxamento, por exemplo.
“Estamos
nos envolvendo cada vez mais em pesquisas para complementar essa visão integral
do ser humano na sua responsabilidade do adoecimento e gerar evidências para um
dia, modificar para melhor, o binômio saúde e doença”, afirma Avezum.
O
cientista também integra o Gemca (Grupo de Estudos em Espiritualidade e
Medicina Cardiovascular) da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
Existente há
sete anos, o Gemca evoluiu e é o primeiro departamento de espiritualidade
dentro de uma sociedade de cardiologia do mundo.
O órgão possui 1.000
cardiologistas filiados, que atuam na divulgação de informações científicas e
propostas de pesquisas dentro da área.
Segundo o
cardiômetro da Sociedade Brasileira de Cardiologia, em 2020, até 14h desta
terça (3), as doenças cardiovasculares mataram 340.117 pessoas no Brasil.
FOLHA DE SÃO PAULO