O cenário
global de investimentos, sujeito a instabilidades crescentes de caráter
macroeconômico, social, político e de governança, aumenta a cada ano a
relevância de modelos de gestão de risco mais sofisticados e que também incluam
as principais variáveis de ASG: práticas de responsabilidade nos aspectos
ambientais, sociais e de governança corporativa. Essa discussão foi aprofundada
durante a reunião do PRI (Principles for Responsible Investment, na sigla em
inglês), realizada em setembro deste ano em Singapura.
Lançada
em 2006 com o objetivo de fomentar um sistema financeiro mais responsável em
relação às questões ASG, a iniciativa das Nações Unidas já soma mais de 1.500
signatários, responsáveis por US$ 60 trilhões em ativos sob gestão, informa a
analista do PRI, Michelle Vargas Pires. Em 2016, o reporting framework,
questionário online que os signatários respondem anualmente sobre práticas de
integração ASG, obteve a participação de mais de mil signatários.
O
relatório, explica a analista, demonstra o cenário macro, ou seja, a base de
dados e os relatórios que são uma base rica de recursos e informações sobre
melhores práticas. Atualmente, 94% dos signatários possui políticas que abrange
investimentos responsáveis; além disso, 91% dos fundos de pensão e 88% dos
gestores de ativos afirmaram manter engajamento ASG – diretamente ou através de
gestores externos.
Sofisticação - O
projeto está em busca de mais signatários, notadamente na Ásia, região onde seu
número ainda é reduzido. A região mais forte em sustentabilidade dos
investimentos é a Europa, enquanto os Estados Unidos mantém uma posição menos
relevante em relação aos países europeus. No Brasil, a participação dos
investidores institucionais que são signatários tem crescido entre os bancos e
as assets mas ainda é relativamente pequeno o número de fundos de pensão nesse
grupo, composto por apenas 14 entidades, ainda que sejam as gestoras dos
maiores recursos.
Entre
elas, a Funcesp, que aderiu ao PRI em 2011, tem participado ativamente dos
debates e esteve presente à reunião de Singapura, informa o Gerente Executivo
de Renda Variável da entidade, Paulo de Sá Pereira. “Além do objetivo de
ampliar o número de signatários asiáticos, o encontro apresentou algumas
plataformas de experiência interessantes que mostram como introduzir o conceito
ASG na gestão”, informa o diretor. Entre as principais novidades do ano, ele
destaca a percepção de que os mercados de países desenvolvidos encaram pela
primeira vez alguns riscos políticos e eleitorais. “Eleições importantes que
estão para acontecer nos EUA, França, Alemanha e outros países foram discutidas
sob o ponto de vista do risco político”, observa o diretor. O fator de
instabilidade política tem impacto direto em uma série de outras questões, com
os riscos ligados a fatores sociais, por exemplo.
Outra
constatação relevante foi a de que os modelos globais de risco ASG adotado pelo
PRI estão ganhando sofisticação, assim como sua política em relação aos
signatários, explica Paulo Sá. Os relatórios agora precisam detalhar melhor o
nível de envolvimento com os princípios sustentáveis, uma mudança introduzida
em 2015. “Com isso, passou a haver um peso maior para os signatários que tenham
em suas carteiras mais ações dentro do conceito ASG, que receberão notas
diferenciadas”. Aqueles que não evoluírem poderão inclusive ser dispensados
como signatários.
Governança
precificada - Na Funcesp, a evolução ASG tem sido focada principalmente
no aspecto de governança, explica o diretor. Nesse sentido, foi contratada uma
empresa especializada em governança corporativa para assessorar a entidade em
relação à sua participação em assembléias das empresas investidas e ao
voto a distância por meio de proxy vote.”Esse trabalho já nos permitiu
identificar várias falhas na governança das companhias e a ideia é ampliar cada
vez mais o horizonte de análise”. O mais importante desse esforço, diz Paulo de
Sá, é garantir uma visão da empresa que ultrapasse a leitura das atas,
enxergando mais do que a parte financeira.
“A
análise de sustentabilidade deve ser vista mais como uma medida de risco do que
de rentabilidade, ela dá mais segurança aos investimentos no médio e longo
prazos”, argumenta Sá. Ele lembra que, dentro do conceito ASG, as
questões ligadas à governança são as que já têm maior clareza para os gestores
brasileiros e podem ser mensuradas com maior facilidade. “Mesmo entre empresas
do mesmo setor, o mercado já faz uma precificação diferenciada em relação à
governança corporativa”.
Enquanto
isso, nos quesitos social e ambiental a falta de informações ainda dificulta a
mensuração para colocar os resultados nas análises. A Funcesp, explica o
diretor, percebeu que havia ficado “para trás no relatório do PRI e decidiu
avançar mais alguns passos. “No relatório de 2014 ainda não tínhamos uma
modelagem, em 2015 já passamos a fazer uma modelagem intuitiva das variáveis
ASG”.
A evolução rumo à
sustentabilidade, diz Michelle Vargas, transparece no interesse crescente dos
signatários do PRI por informações. “Anualmente tem sido feitos mais de
80.000 downloads do PRI Transparency Reports”. Os relatórios contribuem para
fortalecer os processos internos dos gestores de modo que eles desenvolvam sua
capacidade para integrar os conceitos ASG e o seu engajamento junto a clientes,
acionistas, stakeholders e reguladores em todo o mundo.
Diário dos Fundos de Pensão