O presidente Michel Temer admitiu nesta
segunda-feira (6) que a reforma previdenciária pode não ser votada, mas
defendeu que isso não inviabilizará o governo federal.
Na abertura de reunião com líderes da Câmara dos Deputados, ele disse que
continuará a defender a aprovação da iniciativa, mesmo que a população, a
imprensa e o Congresso Nacional sejam contra ela.
"Eu vejo muitas vezes que muitos pretendem derrotá-la, supondo que
derrotando-a estão derrotando o governo. E isso não é verdade. Derrotam o Brasil",
disse. "Não é uma derrota eventual ou a não votação que inviabiliza o
governo, porque o governo já se fez, já foi feito e continuará a ser
feito", acrescentou.
Para ele, a recusa à proposta não representa uma derrota ao governo federal ou
demonstra que a gestão peemedebista não deu certo, porque, na opinião dele, ela
"não falhou em um momento sequer".
"Tenho visto na imprensa que ou o Temer aprova a reforma previdenciária ou
o governo não deu certo. É um governo que deu certo até hoje, que não falhou em
um momento sequer. Ela reclama da Previdência, mas ela não é pessoal e não é
minha, mas é do governo e é compartilhado", afirmou.
Segundo ele, o importante é que seja feito algum avanço na área, ainda que o
texto aprovado não seja o conjunto de medidas proposto inicialmente pela equipe
econômica.
"Continuarei me empenhando nela, vou trabalhar muito por ela, embora a
gente não consiga fazer todo o conjunto que a reforma propõe, quem sabe
conseguimos fazer um avanço", afirmou.
Para ele, a reforma previdenciária é uma espécie de "fecho" das
mudanças promovidas pela gestão peemedebista em áreas como educação e trabalho.
"Se em um dado momento a sociedade não quiser a reforma previdenciária, a
mídia não quiser a reforma previdenciária e o Poder Legislativo ecoe a voz da
sociedade e também não queira aprová-la, paciência, porque continuarei a
trabalhar pro ela", afirmou.
No discurso, o presidente disse ainda que, caso o ex-procurador-geral da
República Rodrigo Janot não tivesse o denunciado duas vezes, as mudanças nas
aposentadorias já teriam sido aprovadas pela Câmara dos Deputados.
Segundo ele, o objetivo da "trama para derrubar o presidente" era
impedir que ele indicasse a atual procuradora-geral, Raquel Dodge, para o posto
de substituta dele.
"Como está robustamente demonstrado, era uma trama que tinha o objetivo
menor e mesquinho de impedir que o presidente pudesse nomear o sucessor daquele
que ocupava a Procuradoria-Geral da República", disse.
O presidente também ressaltou que, mesmo após as duas denúncias, o seu governo
não ficará paralisado e que ele dará prosseguimento às reformas previdenciária
e tributária.
"Nós precisamos descomprimir o país e não podemos ter essa permanente
angústia, sem embargo das dificuldades e infâmias contra o governo", disse
Temer tenta transferir ao Congresso culpa por fracasso da Previdência
Ciente de que ogoverno não tem apoio suficiente para aprovar uma reforma da
Previdência, o presidente Michel Temer tentou transferir ao Congresso o ônus de
um eventual fracasso da proposta, principal pilar de sua agenda de ajuste
fiscal.
Nesta segunda-feira (6), ao falar na abertura de reunião com líderes da Câmara,
Temer admitiu publicamente que a reforma pode não ser votada, mas disse que
isso não inviabiliza o governo.
"Não é uma derrota eventual ou a não votação que inviabiliza o governo,
porque o governo já se fez, já foi feito e continuará a ser feito."
Em conversas com aliados no fim de semana, o presidente constatou que o debate
sobre as novas regras de aposentadoria chegou a uma encruzilhada: a pouco mais
de um mês do fim do ano legislativo, o Planalto não conseguiu angariar os 308
votos necessários na Câmara para aprovar a medida e considera que o assunto
ficará interditado com as pressões eleitorais de 2018.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o líder do PMDB na Câmara,
Baleia Rossi (SP), também afirmaram que os deputados estão contra a iniciativa
e que o governo não tem os votos necessários para a aprovação da reforma na
Casa.
Nesta segunda, Temer foi assertivo ao dizer quer a responsabilidade pela
reforma deve ser compartilhada com o Congresso. Ele jogou para os deputados o
peso de uma possível derrota. "[Se] o Parlamento, que ecoa as vozes da
sociedade, também não quiser aprová-la, paciência."
O presidente disse que continuará a defender a aprovação da iniciativa, mesmo
que a população, a imprensa e o Congresso sejam contrários.
Segundo Temer, o importante é que seja feito algum avanço na área, ainda que o
texto aprovado não seja o conjunto de medidas proposto inicialmente pela equipe
econômica.
"Vou trabalhar muito por ela.
Embora a gente não consiga fazer todo o conjunto que a reforma propõe, quem
sabe consigamos fazer um avanço."
Na interpretação de auxiliares, o discurso é um movimento para evitar que o
revés da principal bandeira de seu governo contamine o que considera o restante
do seu legado, em especial a estabilização da economia. Caso a Previdência não
avance, argumentam esses assessores, o presidente quer deixar claro que essa
foi uma opção exclusiva do Congresso.
Faz parte da estratégia o esforço público de articulação para retomar o debate
sobre a reforma e preservar o compromisso estabelecido com o mercado desde sua
posse.
O presidente até pediu aos líderes da base que consultassem suas bancadas para
medir o apoio a uma versão mais enxuta da proposta, mesmo sabendo que boa parte
de sua coalizão não comprará a ideia.
O governo, assim, transmite a imagem de que fará uma tentativa final, mas não
dará murro em ponta de faca, nas palavras de um aliado.
Apesar das avaliações pessimistas da ala política, a equipe econômica
continuará empenhada em ecoar um cenário dramático para convencer o Congresso
da importância da reforma. O ministro Henrique Meirelles (Fazenda) disse aos
deputados nesta segunda que, caso a medida não avance, pode ser necessário um
aumento de impostos na ordem de 10%.
Após reunião com líderes na Câmara, Rodrigo Maia afirmou que não há votos
necessários para a aprovação da Previdência e que o governo precisa entender o
desgaste dos deputados que votaram contra as denúncias apresentadas contra ele.
"O desgaste dos deputados que votaram com o presidente Temer é muito
grande, os deputados estão machucados."
Folha de S. Paulo