Economistas
e especialistas reunidos, nesta segunda-feira (22), em mais uma audiência
pública da CPI que discute a reforma da Previdência apresentaram dados sobre
contribuições e beneficiários, déficit, seguridade social e envelhecimento da
população. O maior questionamento foi sobre o impacto das novas regras da
aposentadoria nos regimes geral e próprio.
No
entendimento do presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea),
Ernesto Lozardo, diante do atual quadro das despesas públicas, as propostas de
reforma vão assegurar definitivamente a solvência da Previdência Social
respeitando os direitos adquiridos, sem afetar os beneficiários e segurados que
já têm os requisitos para os benefícios.
Além
disso, as regras de transição devem tornar gradativos os efeitos da reforma
previdenciária sobre os atuais trabalhadores ativos. Ele ainda defende manter a
vinculação do piso previdenciário com o salário mínimo.
Os
impactos macroeconômicos da reforma seriam aumento da poupança pública,
estabilidade da taxa de juros, estabilidade cambial e sustentabilidade do
crescimento econômico.
—
Não se pode mais cobrir o déficit por meio de aumento da dívida pública ou de
impostos. Nós temos que trabalhar em um projeto de Previdência que seja
sustentado pelas suas próprias pernas, ou seja, pela sua própria receita. Acho
que esse acerto não tem que recair sobre a classe mais pobre. Tem que ter uma
racionalidade muito grande por um lado, e por outro pode ser uma reforma que
venha a viabilizar o crescimento — opina.
Contribuição
Kaizô
Beltrão, professor na Fundação Getúlio Vargas (FGV), lembra que um dos
problemas no Brasil é que nem todo mundo participa do mercado de trabalho
formal e contribui para a Previdência. Além disso, aumentou a população de
idosos com redução gradual da população economicamente ativa.
No
início do sistema previdenciário, aponta o professor, havia 30 pessoas
contribuindo para cada beneficiário, atualmente essa proporção caiu para dois
contribuintes por beneficiário.
—
Se as regras [atuais da Previdência] continuarem, então, nós estamos falando
algo como 40% da população recebendo os benefícios. Tem mais gente
envelhecendo, menos gente nascendo, o último censo já aponta abaixo de duas
crianças por mulher. Significa que a população a partir de 2030 começa a
decrescer. E a população em idade ativa começa a decrescer antes disso. Como
equilibrar essas contas? — questiona.
Gastos
Para
Fábio Granja, secretário de Controle Externo da Previdência no Tribunal de
Contas da União (TCU), o crescimento dos gastos do Regime Geral não se deve
ainda à mudança demográfica, com baixa taxa de fecundidade e maior expectativa
de vida. Embora, essa seja uma preocupação no futuro próximo.
—
O que está impactando mais, no curto prazo, seriam questões conjunturais,
problemas de gestão e também o próprio desenho da política. Então, você tem na
política previdenciária uma aposentadoria precoce, uma possibilidade de que
determinado segmento não contribua. A gente verifica isso vendo o número de segurados
especiais, ou seja, aposentadorias rurais crescendo muito mais rapidamente do
que as outras. E também o nível de judicialização muito elevado — analisa.
Granja
também demonstrou preocupação com os regimes próprios, principalmente de
estados e municípios, onde o déficit atuarial já é muito elevado.
Com
relação à seguridade social e à necessidade de um plano de custeio ou de
ajustes de benefícios, ele apontou problemas de arrecadação com desonerações
tributárias e a soma dos gastos dos regimes previdenciários elevados em até
9,8% do PIB.
Receita
O
administrador Luciano Fazio, especialista em Previdência Social, questionou a
se a avaliação do equilíbrio previdenciário deve ser feita a curto, médio ou
longo prazo. Ele lembrou que a Desvinculação de Receitas da União (DRU) vale no
médio prazo (até 2023) e indagou se cabe considerá-la em período maior.
Fazio
ressaltou também que há renúncias com finalidade previdenciária. E perguntou
como as outras, sem essa finalidade, devem ser tratadas nas contas da Previdência.
—
Acho que é importante esta CPI dizer de qual Previdência estamos falando, eu
entendo que é a do Regime Geral. Outra questão é que é difícil calcular os
resultados da Previdência, porque só conheço as receitas inclusivas que não são
únicas. E eu não posso fazer uma contabilidade criativa que sugere que o
problema seja causado pela previdência rural porque isso não tem base legal e é
equivocado conceitualmente — afirmou.
Terrorismo
O
economista Eduardo Fagnani, professor na Universidade de Campinas (Unicamp),
classificou de “terrorismo econômico e demográfico” os motivos alegados para a
reforma da Previdência.
—
O diagnóstico é questionável e as propostas excludentes. É uma reforma
draconiana, que atinge o pobre. Não é justo tratar igualmente quem é desigual.
Eles querem que o trabalhador rural do Nordeste tenha regras muito parecidas ou
semelhantes às de um promotor público de São Paulo. São regras mais severas que
as de países desenvolvidos. É justo comparar o Brasil com um país desenvolvido?
— questionou.
Fagnani ainda criticou a inclusão pelo governo de benefícios como
salário-família nas despesas da Previdência Social. Segundo ele, o Executivo
confunde fontes de receitas previdenciárias e de seguridade.
Agência Senado