Não basta
somente reformar as regras da previdência para resolver o problema da
insuficiência de dinheiro para o pagamento de aposentadorias dos funcionários
da iniciativa privada e de servidores públicos. É preciso também mais
transparência na gestão dos recursos bilionários que irrigam o sistema, e mais:
voz ativa daqueles que contribuem para definir o destino desses recursos.
Em meio
às polêmicas propostas do governo federal em tramitação no Congresso Nacional,
de elevação da idade mínima e do período de contribuição dos funcionários da
iniciativa privada, e do percentual de desconto no salário dos servidores
públicos do regime estatutário da previdência, escândalos envolvendo recursos
oriundos dessas contribuições previdenciárias têm sido destaque nos
noticiários, e também na Justiça Federal.
É o caso
dos prejuízos bilionários que os fundos de previdência complementar Petros (dos
funcionários da Petrobras) e Funcef (de quem trabalha na Caixa Econômica
Federal). Cada um destes fundos perdeu pelo menos R$ 1 bilhão no ano passado
com a desvalorização das ações da Eldorado Celulose no mercado. Eles são
acionistas da empresa.
Não é
preciso ser especialista em previdência e em gestão, ou mesmo ter bola de
cristal para saber quem arcará com este rombo. Sim, certamente serão os
funcionários dessas duas estatais. No caso da Caixa Econômica, diga-se de
passagem, cada vez menos a previdência complementar tem feito a diferença no rendimento
mensal dos aposentados do banco público.
Certamente,
a J&F Investimentos, holding que, além da Eldorado, controla outras
empresas conhecidas pela maioria das pessoas, como os frigoríficos JBS, não se
responsabilizará pelos danos causados na gestão da empresa de papel e celulose.
Nem tampouco os gestores desses fundos de pensão, que normalmente são nomeados
pelo governo federal, arcarão com as consequências. A julgar pelos passos dados
pelos conselhos de administração dessas empresas desde 2016, a bomba também não
deverá estourar nas mãos dos acionistas privados.
Os fundos
Petros e Funcef, e por extensão o governo federal pagarão por mais esta gestão
temerária. A recomendação é que os funcionários da Caixa Econômica Federal e da
Petrobras busquem na Justiça a reparação desses danos.
Não bastasse o rombo bilionário nos fundos de pensão
que são acionistas da Eldorado, os investimentos captados para ampliar a
produção das unidades fabris da empresa também vieram dos trabalhadores. Neste
caso, porém, de todos os que têm emprego formal. Grande quantidade de recursos
do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) foi emprestada à empresa
papeleira, que agora assiste ao seu valor de mercado despencar. Neste caso
específico, gestores da Caixa Econômica Federal - que é quem administra esta
reserva de recursos para os trabalhadores - também devem satisfação.
Correio do Estado