A
Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar
(Abrapp) cogita entrar com uma ação direta de inconstitucionalidade no Supremo
Tribunal Federal (STF) contra uma das emendas da PEC 287, da Reforma da
Previdência, que permite a transferência da gestão dos planos de previdência
complementar dos funcionários públicos para a previdência aberta. A proposta
está no texto final do relatório redigido pelo relator Arthur Maia.
Segundo
o presidente da Abrapp, Luís Ricardo Martins, se a gestão desses planos de
previdência for feita por entidades abertas, haverá redução nos rendimentos das
aposentadorias desses funcionários públicos e piora na governança desses
planos.
Os
planos de previdência privada fechada, também conhecidos como fundos de pensão,
são planos criados por empresas e voltados exclusivamente a seus funcionários,
não podendo ser comercializados para quem não é funcionário daquela empresa.
Esse dinheiro tem a gestão de representantes indicados pelos participantes. A
Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc) é a autarquia
vinculada ao Ministério da Previdência Social responsável por fiscalizar as
atividades dessas entidades fechadas de previdência complementar.
Já na
previdência privada aberta, os planos são comercializados por bancos e
seguradoras e podem ser adquiridos por qualquer pessoa física ou jurídica. O
órgão do governo que fiscaliza e dita as regras dos planos de Previdência
Privada é a Superintendência de Seguros Privados (Susep), ligada ao Ministério
da Fazenda.
Essa
proposta de mudança ocorre em meio a seguidos déficits registrados no setor. Os
fundos de pensão fecharam 2016 com rombo de R$ 70,6 bilhões, segundo informou a
Previc ao jornal "O Estado de S. Paulo", 10% menor que em 2015 (R$
77,8 bilhões). Porém, em 2014 o prejuízo registrado foi de R$ 31 bilhões, menos
que a metade do registrado no ano seguinte. Em 2013 foi de R$ 21 bilhões, mais
que o dobro de 2012, de R$ 9 bilhões.
O
déficit é registrado quando os ativos são insuficientes para pagar os
benefícios. Os maiores fundos de pensão são de empresas estatais.
Há
atualmente 307 entidades de fundos de pensão no país, que administram 1.137
planos de benefícios, com o total aproximado de R$ 800 bilhões em
investimentos, entre os 7,2 milhões de associados.
Segundo
Martins, em dezembro de 2016, entre os associados da Abrapp, havia déficit em
80 entidades fechadas de previdência complementar, que administravam 205 planos
deficitários. Outras 138 entidades fechadas administravam 438 planos com superávit.
O
presidente da Abrapp garante que o governo não levou em conta o déficit para
incluir o item questionado pela entidade na reforma da Previdência. “Esse
déficit já foi maior lá atrás. O nível de solvência do nosso sistema é
equilibrado. Em um contrato previdenciário mantido por 30 anos é natural que
oscilações ocorram ao longo dessa relação”, disse.
Para
Martins, não será aumentando a concorrência que os prejuízos nos fundos de
pensão serão revertidos. “A concorrência não ajuda nem vai melhorar o processo
de governança. O sistema vem se recuperando de déficit, os números estão
diminuindo. Hoje o sistema de previdência complementar fechado é sólido, com
governança moderna e confiável em 40 anos de existência”, diz.
A Abrapp
questiona o artigo do projeto de reforma que permite alteração na gestão do
regime complementar de previdência do servidor público, que atualmente
estabelece que deve ser feita por entidade fechada de natureza pública, no
caso, os fundos de pensão. Segundo Martins, a proposta permite que o regime de
previdência do servidor poderá ser administrado por entidades abertas com
finalidade lucrativa mediante licitação.
De
acordo com ele, o que está sendo proposto é prejudicial aos potenciais
participantes, que vão perder na acumulação dos recursos parte de seus
retornos, além de ocorrer a ausência representativa na estrutura
organizacional.
“Será
prejudicial para os participantes porque eles não poderão participar da
governança das entidades, como prevê o artigo 202 da Constituição. Além disso,
não terão a representatividade necessária e garantida”, diz. Martins considera
ainda que as entidades de previdência aberta buscam lucratividade, e que na
hora de repassar a rentabilidade para a conta do participante será descontado o
lucro das entidades, “o que acarreta prejuízo para o participante”. “No caso
das entidades de previdência fechadas, tudo é revertido para o participante.
Além disso, ele pode fiscalizar as contas, o que não acontece nas abertas”,
diz.
“Há um
caminho judicial se passar o texto do jeito que está colocado. Estamos
analisando isso com muito cuidado”, afirma. Segundo Martins, a ação direta de
inconstitucionalidade no STF “busca o reconhecimento dessas violações e a
defesa dos diretos dos potenciais participantes”.
Segundo
dados fornecidos por Martins, o sistema de previdência complementar tem 2,5
milhões de participantes, 705 mil deles ativos, entre os associados da Abrapp.
G1