Covid revela desemprego disfarçado no Brasil, diz
especialista.
Categoria abarca
pessoas que perderam o trabalho e acabaram em ocupações precárias.
A pandemia de
Covid-19 escancarou gargalos no mercado de trabalho brasileiro e
revelou o chamado desemprego disfarçado, que é formado por pessoas que perderam
o emprego e buscaram ocupações secundárias, normalmente informais e precárias,
para gerar alguma renda.
Segundo tese da
economista e professora da UFF (Universidade Federal Fluminense) Julia Braga, a
modalidade acaba distorcendo a realidade nas estatísticas de desocupação.
O termo desemprego
disfarçado foi cunhado pela economista inglesa Joan Robinson em 1936 e adaptado
para a realidade brasileira pela professora da UFF.
"O conceito
diz que após uma crise econômica as pessoas perdem o emprego com vínculo
formal. Mesmo quando há retomada da atividade, elas não voltam a ter a mesma
posição que tinham antes", ressalta Braga.
O estudo destaca que houve queda expressiva da população ocupada
durante a pandemia, especialmente no
setor informal, que teve redução de 15,5%, mais do que o dobro da observada no
mercado formal, de 7,2%.
Os trabalhadores sem carteira assinada foram os mais prejudicados por medidas de
restrição e de isolamento social.
Ao mesmo tempo, as ocupações formais tiveram
incentivos do governo, como crédito direcionado à manutenção de emprego e
medidas como redução de salário e adiamento do pagamento do FGTS (Fundo de
Garantia do Tempo de Serviço), por exemplo.
Para a
especialista, o mercado de trabalho deve passar pelo chamado processo de
histerese, em que os níveis de desocupação ficam elevados por longo período.
A
pesquisa indica que a taxa de desemprego ficará alta nos próximos cinco anos,
mesmo em cenário de recuperação econômica.
A avaliação é que
os trabalhadores que saem da força de trabalho perdem qualificações
profissionais e não conseguem se inserir novamente. Passado o período de
recessão, têm o capital humano reduzido, o que dificulta a recolocação.
Além disso, após
uma crise econômica, o mercado de trabalho demora a reagir à recuperação da
atividade.
O empregador espera que as vendas se consolidem, por exemplo, para
fazer novas contratações.
FOLHA DE SÃO PAULO