Chefes estão perdidos em meio à tecnologia.
Maioria
dos executivos gasta mais tempo em reuniões online e respondendo a mensagens do
que na gestão do negócio.
Com cerca de 70% da equipe em home office, as
reuniões do executivo costumam ser online, com duração de meia hora a duas
horas cada uma. São cinco reuniões por dia. Rodrigo também recebe cerca de 100
emails diariamente, dos quais 40% demandam uma resposta dele.
No WhatsApp, são aproximadamente 50 mensagens de
trabalho diárias. Mas as mensagens também chegam pelo Microsoft Teams, usado para fazer as reuniões, e pelo
Skype.
"Se existe uma coisa da qual eu perdi o
controle durante a pandemia foi da minha agenda", diz o
contador de 44 anos.
"Criei essa obrigação de estar sempre conectado e que
a resposta precisa ser em tempo real. Instintivamente, eu acabo exigindo isso
da equipe e tenho essa expectativa em relação às outras pessoas.
Uma resposta
que aconteça na mesma hora ou no mesmo dia.
É um paradoxo da tecnologia: você
tem mais ferramentas para se conectar, mas ao mesmo tempo fica travado a elas, e deixa de fazer coisas que realmente
importam."
Pesquisa da consultoria em gestão e educação
executiva BTA Associados, sobre mudanças e desafios na rotina profissional no pós-pandemia, apontou
que 66% dos chefes consideram o uso excessivo da tecnologia como o maior ladrão
de tempo: emails, aplicativos como WhatsApp, Slack, Telegram, plataformas de vídeo como
Microsoft Teams, Zoom e Google
Meet, além das redes sociais, atrapalham demais a produtividade.
O levantamento foi feito entre o final de maio e o
começo de junho com cerca de 200 executivos em cargos de conselheiros,
presidentes, vice-presidentes, diretores e gerentes de empresas.
Para eles, 61%
do tempo individual é gasto em atividades que não geram valor ao negócio– e a
tecnologia é a maior culpada disso. Antes da pandemia, em 2019, esse percentual
de "perda de tempo" era de 38%.
O mundo corporativo ainda não aprendeu a
gerenciar a distância. O resultado é que a gestão do tempo virou o desafio
número 1 dos executivos –enquanto a gestão do negócio está em 4º lugar, segundo
a pesquisa. (Betânia Tanure, psicóloga).
A demanda online se acentuou nos últimos meses.
"As empresas estavam saindo de um período atribulado, que foi a fase mais
aguda da pandemia, e aí são pegas com outras demandas urgentes, como o reflexo
da guerra da Rússia na Ucrânia e a inflação acelerada", diz.
"Tudo
exige decisões rápidas demais." (Vânia Café,
sócia da BTA).
O que se vê são executivos "naufragando"
em meio às demandas que a comunicação em tempo real traz, diz Betania. Segundo ela,
a questão não se resume a delegar tarefas.
"A empresa depende das decisões
dos altos executivos. Eles precisam ter tempo para receber as informações,
processá-las, reorganizá-las dentro da estratégia da companhia e dar um rumo à
organização", afirma a especialista.
FOLHA DE SÃO PAULO