Segundo relatório divulgado pela Previc,
o déficit dos fundos de pensão somava R$ 16 bilhões em dezembro de 2017. Constantemente,
você ouve falar do déficit do governo federal para com a previdência pública.
Você talvez não saiba, mas, provavelmente, também tem uma dívida com sua previdência. Se
não parou para calcular, ela pode estar maior do que imagina.
Abaixo vou descrever 5 passos para estimar sua dívida e como criar
um plano para saldá-la.
O primeiro passo é estimar qual seria a renda anual necessária
para cobrir suas despesas durante a aposentadoria. Quanto maior for o valor da
renda desejada, maior será sua dívida. Logo, deve ser consciente e considerar
uma renda realista capaz de cobrir seus custos.
Em seguida deve refletir sobre qual seria o prazo de
aposentadoria. Quanto menor for o prazo de usufruto da aposentadoria, menor
será seu débito. Devido aos avanços da saúde, se você chegou até a idade de
aposentadoria (65 anos), há uma grande probabilidade de viver pelo menos mais
trinta anos.
Um importante passo é a determinação do rendimento das aplicações.
Nesse passo, deve estimar a taxa de juros acima da inflação viável de obter, em
suas aplicações financeiras, durante a aposentadoria e até ela. Quanto maior a
taxa de juros, menor será sua dívida e mais fácil será para pagá-la.
Uma taxa de juros factível e conservadora seria 75% da taxa que
encontra nos títulos de longo prazo referenciados à inflação no site do tesouro
direto. O motivo para o percentual de 75% é de se considerar o IR que incide
sobre as taxas e sobre a inflação. Atualmente, a taxa dos títulos longos está
em 5,8% ao ano. Portanto, a taxa a se considerar no cálculo é de 4,35% (= 5,8%
* 75%).
Os fundos de pensão consideram hoje uma taxa atuarial média de
5,3% ao ano e na média não estão sendo capazes de cumprir, segundo o relatório
da Previc.
Em seguida deve calcular qual o valor necessário ao se aposentar.
Para isso, basta calcular em uma calculadora financeira o valor presente desse
fluxo de pagamentos.
Os três passos acima podem ser simplificados utilizando a regra dos 4%. Essa
regra foi proposta por William Bengen e publicada em 1994 no Journal of
Financial Planning. Basta dividir o valor da primeira renda anual por 4%.
Assim, se deseja ter uma renda de R$5 mil por mês, deve dividir R$60 mil (= R$5
mil * 12 meses) por 4%. Esse cálculo resulta em um valor de R$ 1,5 milhões
necessário no início de sua aposentadoria.
Para calcular sua dívida com sua previdência, basta trazer a
valor presente para a data de hoje esse valor. Considerando que tem
quarenta anos e que se aposentaria aos 65 anos, sua dívida seria de R$517 mil.
Essa dívida será paga em parcelas mensais até chegar o início da aposentadoria.
A mensalidade necessária para atingir esse valor no início da
aposentadoria pode ser calculada com uma calculadora financeira. No exemplo
acima, faltariam 300 meses (25 anos) para se aposentar. Logo, sua dívida atual
com a previdência seria paga com uma mensalidade de R$ 2,8 mil que cresce com a
inflação. Esse valor, poderia ser investido
conservadoramente nos títulos públicos federais que foram utilizados
para estimar a taxa no terceiro passo.
Se você não é capaz de guardar o valor mensal necessário para
pagar a dívida com a previdência, você também possui um déficit com sua
previdência. A medida que passa o tempo e não inicia a contribuição ou não paga
o valor necessário, esse déficit só cresce. Portanto, não postergue o início
desse pagamento.
FOLHA DE SÃO PAULO