Mediocridade será a marca da
economia brasileira nos próximos três anos, segundo as projeções do mercado, e
até essa expectativa embute algum otimismo.
Para crescer 2,50% em 2019 e
repetir esse desempenho até 2021, com a inflação mais ou menos contida e
investimento estrangeiro em alta, o País terá de chegar ao terceiro ano do próximo
governo sem um desastre nas contas públicas e sem apavorar o mercado com o
risco de um calote. S
e o novo presidente será capaz
de garantir esse mínimo de segurança, ou mesmo se terá uma clara percepção do
desafio, ninguém pode dizer neste momento. Quanto a 2018, as previsões
continuam sombrias, indicando uma atividade pouco mais intensa que no ano
passado, quando os negócios começaram a sair da recessão. O crescimento do
Produto Interno Bruto (PIB) deve ficar em 1,55%, segundo a mediana das projeções
coletadas na última pesquisa Focus do Banco Central (BC). Quatro semanas antes,
sem o choque da crise no transporte rodoviário, as estimativas ainda apontavam
uma expansão de 2,18% – uma perspectiva já pouco estimulante, embora melhor que
a atual.
Um horizonte mais distante é
uma das marcas da pesquisa Focus em novo formato, divulgada ontem pela primeira
vez. Agora se publicam projeções até 2021, três anos à frente, cobrindo todo o
período das metas de inflação já definidas. Na semana passada foi fixada a meta
de 3,75% para vigorar dentro de três anos. As projeções de inflação indicam
4,10% para 2019 e 4% para os dois anos seguintes. O número apontado para 2021,
portanto, está um pouco acima do alvo, mas dentro da tolerância de 1,5 ponto
porcentual.
Para este ano a pesquisa
registra as projeções de 4,03% e 4,16%, mais altas que as da semana anterior e
bem maiores que as de quatro semanas antes (3,65% e 3,75%). Aqui aparece outra
inovação. O relatório apresenta, em linha separada, a mediana das estimativas
de inflação resultante de revisões nos cinco dias úteis até a coleta. Isso
permite uma atualização maior de parte das informações e uma indicação mais
precisa de tendências.
A manutenção de algumas
projeções por longo período pode ser em parte explicada pelas dificuldades de
avaliar as condições de crescimento econômico e de controle da inflação durante
o próximo governo. O acréscimo de um ano – 2021 – alongou o horizonte e pode
ter enriquecido o boletim Focus, mas de nenhum modo tornou menos enevoado o horizonte
político. Mas, ainda assim, o conjunto dos números contém alguns detalhes muito
significativos.
O crescimento econômico
estabilizado em 2,50% a partir de 2019 corresponde aproximadamente ao potencial
de expansão estimado para o sistema produtivo brasileiro. A mensagem é
provavelmente traduzível nas seguintes palavras: se nada muito ruim acontecer,
o PIB crescerá de acordo com a mediocridade de seu potencial, porque nada
permite prever ganhos sensíveis de produtividade nos próximos anos.
Essa mensagem combina com as
estimativas de crescimento industrial de 3,17% neste ano, 3,10% no próximo e 3%
em 2020 e 2021. Não se esperam ganhos importantes de eficiência nem na
indústria nem no conjunto da economia, apesar de alguma expansão do
investimento produtivo em 2018 e, possivelmente, em 2019.
Espera-se, no entanto, algum
controle das contas públicas. O déficit nominal – com a inclusão da despesa com
juros, portanto – deve diminuir, segundo as projeções, de 7,20% do PIB neste
ano para 5,80% em 2021, numa trajetória contínua de redução. O buraco ainda
será grande, pelos padrões internacionais, mas algum esforço de contenção está
pressuposto nesses números.
Não está claro se a pressuposição inclui reformas essenciais, mas a
resposta é provavelmente positiva. Não basta, no entanto, manter contas
públicas administráveis, embora isso seja fundamental. Para elevar o potencial
de crescimento será preciso ir além, favorecendo investimentos públicos e
privados e criando condições para ganhos de produtividade. Nada permite apostar
nisso, neste momento. Mas, ainda assim, o quadro de mediocridade embute algum
otimismo.
O ESTADO DE SÃO PAULO