EDUCAÇÃO


2,3 milhões abandonaram curso superior em 2021.

Perda de estudantes no ensino privado é quatro vezes maior que no público.

Uma preocupação constante das Instituições de Educação Superior (IES) é a desistência no meio do curso por seus estudantes, o que é tecnicamente denominado de "evasão". 

Além de representar perdas nos âmbitos social, acadêmico e econômico, ela significa também um grande sofrimento emocional àqueles que, por algum motivo, precisam abandonar os seus cursos. 

Os fatores são múltiplos e precisam ser compreendidos.

impressão geral que se formou atualmente é a de que, com a pandemia de Covid-19 iniciada em 2020, o quadro de evasão de estudantes universitários se agravou no país. 

A consulta às Sinopses dos dados do Censo da Educação Superior do MEC-INEP, entretanto, permite pensar que esta é uma meia verdade e que o fenômeno do abandono exige de nós uma reflexão mais cuidadosa e aprofundada.

Quando comparamos o comportamento das taxas de evasão de instituições públicas e privadas nos últimos 5 anos (2017-2021), notamos tendências bem diferentes, revelando que a evasão de estudantes acomete desigualmente essas IES. Os dados de 2022 ainda não estão disponíveis.

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O fenômeno da evasão é bem complexo, deve ser melhor compreendido e duramente combatido com políticas institucionais e governamentais, se quisermos favorecer, de fato, uma oportunidade concreta de mobilidade social no país. 

De acordo com a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, os brasileiros portadores de diploma superior ganham em média 2,5 vezes mais do que aqueles com diploma de nível médio. 

É a maior diferença salarial observada entre os 46 países analisados pela organização.

Outro movimento muito importante para compreendermos o fluxo de estudantes nos cursos de graduação é compararmos o número de alunos que ingressam na graduação e que concluem os seus cursos. 

Nesse sentido, a série histórica nos mostra um comportamento relativamente estável para as IES públicas, que tiveram uma perda de 7% de ingressantes em 2021, quando comparado ao ano de 2016, e uma perda de 11% de concluintes no mesmo período.

No caso das IES privadas, a situação é bem diferente. Ambas as curvas - de ingressantes e de concluintes - são ascendentes, revelando que o setor sustentou uma enorme expansão no período, oferecendo novas vagas e cursos, aumentando as matrículas. 

No entanto, se o número de ingressantes em 2021 é 40% maior que o registrado em 2016, o número de concluintes aumentou apenas 20%. 

Essa diferença mostra que a política de expansão das IES privadas concentra-se na captação de novas matrículas e que esses estudantes não necessariamente chegam a concluir os seus cursos, evadindo-se no caminho.

Constituir uma educação superior de qualidade não se restringe à abertura de vagas e ampliação de matrículas, é preciso garantir uma formação qualificada e o acompanhamento e apoio a cada estudante, como cidadão e não apenas como consumidor, para superar desafios e dificuldades, e tornar-se um profissional capaz de fazer diferença para um futuro melhor para si e para o país. 

A crise brasileira e o fundo do poço em que chegamos estão intimamente ligados à dificuldade em formar, no mais alto nível, as novas gerações.



FOLHA DE SÃO PAULO
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