Durante
anos, o gasto do tesouro do Rio de Janeiro com folha de pagamentos cresceu mais
de 16% ao ano, segundo a Secretaria do Tesouro Nacional. Esse crescimento
decorreu de diversos fatores.
As regras
da previdência pública permitem aposentadorias precoces, com muitos servidores
se aposentando com menos de 50 anos de idade. Esse problema é agravado pelo
rápido envelhecimento da população.
Além
disso, o deficit da previdência dos servidores era financiado com royalties do
petróleo. Não é fiscalmente responsável pagar despesas recorrentes com rendas
voláteis. Com a queda do preço do petróleo, o tesouro teve que arcar com
despesas crescentes para pagar as aposentadorias.
Agravando
as dificuldades, o Rio de Janeiro, como outros Estados, concedeu diversos
benefícios fiscais para setores privados.
O deficit
da previdência no Rio de Janeiro já era conhecido no começo da década.
Em vez de
enfrentar o problema estrutural, o governo financiou despesas recorrentes
crescentes com recursos extraordinárias, como os depósitos judiciais entre
partes privadas e os empréstimos concedidos por bancos públicos ou com o aval
do Tesouro Nacional.
Além
disso, o governo vendeu receitas de petróleo para os próximos anos para pagar
despesas correntes com previdência, e agora propõe vender as receitas das
próximas décadas.
Em 2015,
alguns Estados fizeram ajustes fiscais severos, como Espírito Santo, Goiás e
Alagoas, ao contrário do Rio de Janeiro.
As
receitas extraordinárias têm o mau hábito de terminar. As despesas recorrentes,
não. As medidas adotadas pelo Rio de Janeiro apenas adiaram o enfrentamento dos
problemas estruturais, que se agravaram neste período.
Superar a
crise fiscal requer interromper o crescimento da despesa incompatível com a
receita pública, o que implica rever as regras de aposentadoria dos servidores,
reduzir o quadro de pessoal, implementar o teto constitucional que limita a remuneração
dos servidores públicos e reduzir benefícios, entre outras difíceis medidas.
Não há
saída sustentável sem redução do gasto com pessoal, reforma da previdência dos
servidores públicos e a revisão dos incentivos fiscais concedidos para o setor privado.
A
proposta de novos empréstimos com garantias para Estados que estão com
problemas para pagar despesas correntes repete o equívoco das medidas adotadas
nos últimos anos, como a renegociação das dívidas estaduais, provocada pelo
Supremo.
Medidas paliativas apenas resultarão em uma crise
ainda mais severa nos próximos anos.
Folha de S. Paulo