A Justiça tem admitido o cancelamento de contratos de planos de saúde de
empresas e usuários que cometeram fraudes. São comuns uso de carteirinhas por
terceiros, pedidos de reembolso de consultas e exames não realizados, além de
insumos não utilizados, e a apresentação de falsos vínculos de emprego em
planos coletivos. A conta é alta: R$ 27,8 bilhões foram consumidos
indevidamente por fraudes em contas hospitalares e desperdícios com
procedimentos desnecessários em 2017, segundo levantamento do Instituto de
Estudos de Saúde Suplementar (IESS).
Pela Lei dos Planos de Saúde (nº 9.656, de 1998), os contratos só podem
ser encerrados por dois motivos. Um deles é fraude. Está no artigo 13, inciso
II. O outro é inadimplência – o não pagamento da mensalidade por período
superior a 60 dias, consecutivos ou não, em um ano. Quando detectada uma
fraude, o plano normalmente notifica o contratante para cancelar o contrato de
prestação de serviços. Em alguns casos, porém, empresas têm entrado na
Justiça contra a medida, que tem sido confirmada após a apresentação de provas
das ilegalidades cometidas.
Uma fraude comum, segundo os planos, é a indicação de beneficiário sem
vínculo empregatício com o contratante. Um caso foi julgado recentemente pela
7ª Vara Cível de São Paulo. A juíza Claudia Carneiro Calbucci Renaux negou
pedido de uma empresa de desenvolvimento humano que buscava a continuidade de
contrato com a Amil.
“As fraudes no sistema de saúde oneram as despesas, pressionam a
inflação médica e prejudicam todos os beneficiários”, afirma Fabrizio Tancredo,
diretor jurídico da Amil. De acordo com ele, a empresa decidiu combater
mais incisivamente as más práticas em saúde nos dois últimos anos. Ao todo, 400
funcionários estão alocados em áreas estratégicas para o combate às fraudes,
aos erros, aos abusos e aos desperdícios.
Em 2017, a Amil lançou canais oficiais de denúncias. Entre 2018 e 2019,
foram recebidas 11.500 denúncias e 1.242 fraudes foram confirmadas. O sistema
Amil computa, anualmente, mais de 98 milhões de consultas, exames, internações
e procedimentos odontológicos, realizados por aproximadamente 6,2 milhões de
beneficiários. Para evitar a ocorrência de fraudes, afirma Reinaldo Scheibe,
presidente da Abramge, empresas têm investido principalmente em tecnologias,
como o uso de biometria facial ou digital para autorizar determinados serviços
ou a utilização de aplicativos que comprovam que realmente o beneficiário está
no hospital, laboratório ou no consultório alegado, com a emissão de um código
via mensagem de celular.
Valor Econômico