Quando a avalancha de informações econômicas pessimistas se soma
à rotina de notícias sobre assassinatos, balas perdidas, chacinas, tragédias
familiares, assaltos e atentados contra a economia popular, a agenda diária da
imprensa leva o leitor a um dilema atroz: ter ataques de fúria ou
simplesmente ignorar a realidade – o que, no caso da imprensa, significa
desinteressar-se pelas notícias para preservar a sanidade mental.
Está é a escolha que um número crescente de leitores, ouvintes,
telespectadores e internautas brasileiros está sendo obrigado a fazer
diariamente na hora de ler um jornal, revista ou assistir a um telejornal. Está
cada dia mais difícil suportar a carga de pessimismo transmitida
pelas manchetes e por âncoras de telejornais, alguns dos quais parecem ter
prazer em anunciar novas tragédias e novos sacrifícios para um cidadão que
passou da euforia e otimismo até o inicio do ano passado para um estado de
choque agora em 2015.
A associação do noticiário pessimista com a estratégia
oposicionista de desconstrução do governo Dilma Rousseff pode até ser casual,
mas o fato concreto é que o crescente déficit de esperança do público consumidor
de notícias tem consequências de médio prazo e que não são nada animadoras para
o futuro da imprensa.
O que se nota atualmente é que uma parcela considerável do
público começa a descrer do que a imprensa publica por associar as
notícias ruins a uma estratégia política e ideológica. A outra parte
da clientela de jornais, revistas, telejornais e redes sociais vincula-se a
esses veículos não por sua missão informativa, mas porque oferecem abrigo e
conforto para posicionamentos ideológicos. Ambos os casos deveriam preocupar os
executivos da indústria jornalística porque eles não garantem a sustentabilidade
futura das empresas que dirigem.
A descrença tem efeitos prolongados porque
afeta a credibilidade de leitores, ouvintes, telespectadores e internautas. Já
a identificação ideológica pode ser transitória porque as conjunturas mudam e,
com elas, a fidelização do público simpático às opções do veículo jornalístico.
No caso atual, na hipótese de a presidente Dilma ser afastada,
como deseja a extrema direita, o fator ideológico perderá relevância logo após
as eventuais mudanças no governo, repetindo o que ocorreu antes e depois do
golpe militar de 1964.
Saturadas por tantas notícias pessimistas ou irritadas com o
impasse político-ideológico, as pessoas promovem nas redes sociais da internet
uma catarse coletiva online, que por um lado pode aliviar temporariamente
as tensões pessoais mas, por outro, carrega ainda mais o já pesado ambiente
informativo .
Há dias li no Facebook o comentário de um
internauta que dizia: “Eu já sei que está ruim e vai ficar pior.
Por que a imprensa não nos acompanha na busca de soluções?” O
angustiado consumidor de notícias deu vazão ao que muita gente pensa e tem
muita dificuldade para transformar em prática.
A dificuldade é que fomos educados a cobrar e esperar que
os governos e as empresas resolvam todos os nossos problemas. Hoje
verificamos que nem um nem outro têm condições e vontade de atender às nossas
expectativas. Os governos, de todas as tendências, se transformaram em
entidades corporativistas preocupadas com seus próprios interesses.
As empresas perderam a perspectiva de sua missão social e só
pensam no próprio lucro num momento de crise.
O leitor pode cobrar da imprensa a aplicação do chamado jornalismo de soluções, uma opção que já é
praticada em vários países, principalmente nos Estados Unidos, e que tem como
condição prévia o desapego ideológico e partidário. O engajamento
com o leitor é prioritário em relação às alianças políticas.
O fundamental passa a ser ouvir o que as pessoas têm a dizer,
identificar problemas a partir da base e não dos desejos e preferências dos
editores.
O principal objetivo é criar um ambiente de diálogo permanente
entre o veículo jornalístico e as comunidades que ele elegeu como público alvo.
O bombardeio negativista nas manchetes e comentários pode
agradar ao fígado e projetos de alguns jornalistas, políticos e empresários
envolvidos na batalha entre petistas e antipetistas, mas já está saturando o público,
que num impulso de sobrevivência social passa a olhar para o outro lado. Para
muitos, este outro lado é simplesmente ignorar a imprensa, algo que
deveria tirar o sono de executivos, diretores de redação e editores.
Carlos
Castilho – jornalista, professor, autor.
Fonte: site Observatório da Imprensa