Situação financeira é a questão
que mais afeta saúde mental dos brasileiros, aponta pesquisa
Mulheres, pessoas trans e em busca de emprego têm mais sofrimento
psíquico.
Uma pesquisa realizada pelo
Instituto Cactus, entidade filantrópica com foco em saúde mental, em parceria
com a AtlasIntel, empresa de tecnologia especializada em inteligência de dados,
mostra que a situação financeira representa a principal preocupação que afeta
a saúde mental dos brasileiros.
O Panorama da Saúde Mental,
relatório divulgado nesta sexta-feira (4), revela que 88% dos entrevistados
declararam ter ficado preocupados com as finanças durante as
últimas duas semanas.
A pesquisa foi realizada de 19
de janeiro a 20 de fevereiro deste ano, com 2.248 respondentes (51,1% mulheres,
48,3% homens e 0,6% não-binários), de todas as regiões do país, a partir dos 16
anos.
Mulheres, jovens, pessoas trans e em busca de emprego são as que têm a saúde
mental mais afetada, aponta o levantamento.
Para chegar aos resultados, os
pesquisadores aplicaram um questionário usado internacionalmente em avaliações
de saúde mental e criaram o Índice Instituto Cactus-Atlas de Saúde Mental
(iCASM), que analisa múltiplos aspectos, hábitos e situações que refletem
positiva e negativamente a saúde mental dos brasileiros.
O iCASM é calculado em uma
escala entre 0 e 1.000 pontos (de péssimo a excelente) e representa a média
simples dos resultados. Ele se baseia em três dimensões: confiança, vitalidade
e foco.
A confiança reflete a autoestima que o indivíduo tem sobre si
mesmo e a autoconfiança sobre seu papel na sociedade.
A vitalidade é sobre a
disposição e a capacidade de ação dos indivíduos para superar os desafios e
adversidades do cotidiano, assim como o sofrimento psíquico associado a eles e
o seu sofrimento psíquico diante delas.
Já o foco mostra a habilidade do indivíduo se
relacionar com seu entorno de forma produtiva, conseguindo se concentrar, tomar
decisões e realizar suas atividades cotidianas.
Gênero, orientação sexual,
renda, situação profissional, relações familiares e prática de esportes
foram os fatores com maior associação com a saúde mental dos entrevistados.
O iCASM do 1º semestre de 2023
ficou em 635 pontos. Este resultado pretende estabelecer o início de uma série
histórica que permitirá a observação do comportamento do índice ao longo do
tempo.
De maneira global, os
brasileiros apresentaram resultados mais positivos na dimensão confiança e mais
negativos na dimensão foco.
PRINCIPAIS
PREOCUPAÇÕES RELACIONADOS À SAÚDE MENTAL
De acordo com o Panorama da
Saúde Mental do 1º semestre de 2023, a principal preocupação dos brasileiros é
com sua situação financeira, com 88% dos respondentes
declarando ter ficado preocupados com a situação financeira durante as últimas
duas semanas.
Além disso, quase 6 em cada 10 brasileiros relataram preocupação
frequente com a situação financeira, o que está associado a resultados de saúde
mental inferiores.
A população que está em busca de emprego também teve um
resultado baixo: 494 no iCASM, 186 pontos
abaixo dos assalariados e 141 pontos abaixo da média populacional.
Para o Instituto Cactus, os
resultados reforçam a importância de políticas públicas e ações que abordem
questões de trabalho e renda intersetorialmente, como partes fundamentais e
integrantes das políticas de saúde mental.
IDENTIDADE DE GÊNERO,
SEXUALIDADE E IDADE
Em relação ao gênero e
identidade de gênero, há uma discrepância nos resultados do iCASM, e
as populações com pontuações mais baixas são a mulheres, com iCASM de 600 pontos, 72 pontos
abaixo do iCASM para homens e 35 pontos abaixo da média populacional e a população trans, cujo
iCASM foi de 445, 193 pontos abaixo dos cisgênero, e 190 pontos abaixo da média
populacional.
Quanto à orientação sexual,
os homossexuais apresentaram iCASM de 576 e
bissexuais de 488, 59 pontos e 147 pontos, respectivamente, abaixo da média
populacional, o que também sinaliza para uma necessidade de priorização e olhar
atento para estes públicos na condução de debates e políticas de saúde mental.
Os resultados indicam que os
mais jovens são aqueles com pontuações mais
baixas de saúde mental, sendo que os jovens até 24 anos apresentaram um iCASM
de 534 pontos, 105 pontos abaixo da média entre as faixas etárias, e 101 pontos
abaixo da média populacional.
HÁBITOS, PREOCUPAÇÕES E RELAÇÕES
PESSOAIS
Pessoas com maiores redes de
apoio e relações mais saudáveis com família e
amigos apresentaram pontuações no iCASM mais elevadas que a média geral.
Aqueles que não reportaram brigas com familiares nas últimas duas semanas
obtiveram um iCASM de 715, em oposição a um iCASM de 370 entre aqueles que
reportaram 3 vezes ou mais episódios de desentendimentos.
A autopercepção sobre beleza e inteligência também foram
fatores relevantes na pesquisa. Aqueles que reportaram ter se sentido pouco
atraentes 3 vezes ou mais nas últimas duas semanas apresentaram um iCASM de 384
(vs 776 com aqueles que não tiveram este sentimento, e 635 da média
populacional).
Entre aqueles que se sentiram
menos inteligentes 3 vezes ou mais nas últimas duas semanas, o iCASM foi de
326, vs 752 entre os que não tiveram essa preocupação.
O bullying também apareceu como importante
fator, sendo que o índice chegou a 486 entre aqueles que reportaram bullying de
3 vezes ou mais nas últimas semanas, em comparação com um índice de 659 dos que
não reportaram nenhum episódio.
Por fim, destaca-se também
a dor crônica, já que o iCASM entre aqueles que
reportaram 3 ou mais vezes dor crônica nas últimas 2 semanas foi de 515, em
comparação com 692 daqueles sem dor crônica.
SERVIÇOS DE SAÚDE
O levantamento revela que 41%
dos brasileiros afirmam estar insatisfeitos com os serviços de saúde em algum
grau, enquanto 30% se dizem satisfeitos ou muito satisfeitos.
Entre os entrevistados, 11,7%
relataram ter utilizado serviços hospitalares em saúde mental nos últimos 12
meses, incluindo serviços de enfermaria em hospital geral, hospital psiquiátrico, hospital dia, pronto
atendimento e urgência.
Dos respondentes, 7,1% afirmaram
ter recebido algum diagnóstico de saúde mental no SUS (Sistema Único de
Saúde), nos últimos 12 meses, durante uma consulta de rotina.
+ SAÚDE
MENTAL
GASTOS
COM SAÚDE MENTAL
A pesquisa mostra que 62,1% dos
brasileiros reportaram não terem tido gastos com atendimento em saúde mental
nos últimos 12 meses, enquanto 9,7% reportaram um gasto mensal de mais de R$
500 com estes cuidados.
Sobre os serviços utilizados,
62,5% dizem que não utilizaram serviços de saúde mental, enquanto 20,9%
reportaram utilizar serviços privados e 16,6% serviços públicos.
PSIQUIATRA OU PSICÓLOGO
O estudo mostra que 19,1% dos
brasileiros afirmam ter consultado psiquiatra ou psicólogo nos últimos 12
meses, tendo a maioria feito apenas uma ou duas consultas no período (64,4%).
Sobre fazer psicoterapia, 5% relataram estar fazendo
tratamento, sendo que mais da metade (56,9%) disse fazer há mais de um ano.
MEDICAÇÃO DE USO CONTÍNUO
Em relação a medicações de uso
contínuo, como antidepressivos, 16,6% relataram tomar
remédios para problemas emocionais, comportamentais ou relacionado ao uso de
substâncias, sendo que a maioria (77,7%), utiliza esse produtos há mais de um
ano.
GASTOS
COM SAÚDE MENTAL
A pesquisa mostra que 62,1% dos
brasileiros reportaram não terem tido gastos com atendimento em saúde mental
nos últimos 12 meses, enquanto 9,7% reportaram um gasto mensal de mais de R$
500 com estes cuidados.
Sobre os serviços utilizados,
62,5% dizem que não utilizaram serviços de saúde mental, enquanto 20,9%
reportaram utilizar serviços privados e 16,6% serviços públicos.
PSIQUIATRA OU PSICÓLOGO
O estudo mostra que 19,1% dos
brasileiros afirmam ter consultado psiquiatra ou psicólogo nos últimos 12
meses, tendo a maioria feito apenas uma ou duas consultas no período (64,4%).
Sobre fazer psicoterapia, 5% relataram estar fazendo
tratamento, sendo que mais da metade (56,9%) disse fazer há mais de um ano.
MEDICAÇÃO DE USO CONTÍNUO
Em relação a medicações de uso
contínuo, como antidepressivos, 16,6% relataram tomar remédios
para problemas emocionais, comportamentais ou relacionado ao uso de
substâncias, sendo que a maioria (77,7%), utiliza esse produtos há mais de um
ano.
SÍLVIA HAIDAR - especialização em neurociências pela Unifesp e é formada
em história | blog Saúde
Mental