Capital humano para o progresso
O
foco da economia moderna está nas pessoas.
Economistas costumam ser grandes entusiastas da educação.
Enquanto nas aulas de macroeconomia jovens passam horas derivando modelos
matemáticos com o intuito de entender possíveis canais teóricos da transmissão
dos seus efeitos, nos cursos de microeconometria, o objetivo é procurar
estratégias para estimar empiricamente o seu impacto em variáveis
socioeconômicas.
Adam Smith, considerado o pai da economia, já havia destacado a
importância das habilidades das pessoas para o progresso econômico.
Anos
depois, Arthur Pigou criou o termo capital humano. Porém, foi Gary Becker, em
1950, que o difundiu amplamente.
Este tipo de
capital pode ser pensado como o conjunto de fatores que fazem determinada
pessoa ser mais produtiva. Apesar da relevância da aquisição de conhecimento e
habilidades, investimentos na saúde também têm um papel de destaque.
Alguns economistas creditam o sucesso de certos
países ao investimento em capital humano.
Coreia do Sul, China e Japão costumam serem citados como países
que, apesar de terem poucos recursos naturais, investiram na formação dos seus cidadãos e
tiveram um crescimento econômico sustentado. Entretanto, outros economistas
veem esse argumento com ressalvas.
Em parte, as controvérsias decorrem devido ao fato
de que a macroeconomia é um campo de estudo em que é razoavelmente difícil
obter sólidas evidências empíricas. Deste modo, muitas vezes, resta a retórica.
Contudo, na microeconomia, o cenário é bem diferente. Existem uma série de
estudos apresentando fortes evidências do impacto positivo dos investimentos no desenvolvimento dos
indivíduos.
Isso faz com que a aquisição de conhecimento e formação
dos cidadãos estejam no coração de diversas análises econômicas contemporâneas.
Assim, na economia moderna, o foco saiu dos agregados econômicos e agora está
nas pessoas.
Os gastos com o desenvolvimento do capital humano representam um
dos melhores investimentos que governos, empresas e indivíduos podem fazer.
Porém, o financiamento dos gastos e o foco dos
investimentos costumam gerar debates acalorados.
Alguns acreditam que os ganhos
privados com a formação dos indivíduos são elevados e, por isso, eles deveriam
arcar com os custos.
Outros acham que o governo deve financiar a educação e
deixá-la acessível para a maior parte da sociedade.
Universidades públicas, por exemplo, costumam ser
fonte de discordância entre economistas. Em diversos países, a elite tem maior
acesso às universidades e cursos de qualidade.
Assim, o governo pode acabar
subsidiando estudantes privilegiados que depois vão obter elevados retornos
privados no mercado de trabalho.
Dado que a literatura tem apresentado uma série de
evidências de que investimentos bem-sucedidos na primeira infância e na
educação básica geram um alto retorno social, uma corrente de
economistas tem argumentado que o foco dos investimentos públicos deveria estar
nessas etapas.
Entretanto, outros acreditam que as externalidades positivas do
ensino superior público compensam os gastos do governo, e que o acesso à
educação de qualidade, em todas as etapas do ensino, deveria ser um direto de
todos.
Nesse contexto, os avanços tecnológicos têm exigido
competências cada vez mais sofisticadas e feito com que muitas habilidades
adquiridas no decorrer da vida se tornem obsoletas rapidamente.
Deste modo,
países que conseguiram construir um sistema educacional eficiente estão obtendo
elevados retornos sociais. No caso brasileiro, ainda não conseguimos vencer
sequer o analfabetismo funcional.
O texto é uma homenagem à música Oricuri, de João
do Vale e interpretada conjuntamente com Clara Nunes.
O Poeta do Povo, apesar
de ser desconhecido para a grande maioria dos brasileiros, está na minha lista
de cantores favoritos.
MICHAEL
FRANÇA - Ciclista, doutor em teoria econômica pela
Universidade de São Paulo; foi pesquisador visitante na Universidade Columbia e
é pesquisador do Insper.