A cultura das organizações brasileiras ainda é entrave para a
boa governança no País
O
conceito de governança corporativa começou a ser implantado em grandes empresas
do País apenas no final dos anos 1990. No início, as discussões sobre as
melhores práticas para administrar companhias não eram fator decisivo para os
negócios, justamente por não se compreender exatamente a sua importância.
Para a presidente do
conselho de administração do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa
(IBGC), Sandra Guerra, o principal entrave à boa governança em empresas
brasileiras ainda é a cultura das organizações. “A consciência de que fazer as
coisas bem governadas gera valor vai na contramão de uma visão antiga que
se tinha sobre negócios: a de que algumas práticas não tão republicanas às
vezes trazem lucros mais rapidamente”, afirma.
Formas de gestão não
tão excelentes e decisões precipitadas podem trazer retorno rápido, mas
oferecem risco no longo prazo, explica a executiva: “A questão da
governança é como sustentar isso [o retorno]? E como o benefício que se
consegue hoje não canibalizará o futuro da empresa?”. Com o intuito
de evitar escândalos corporativos como os ocorridos nos Estados Unidos, a lei
10.303/2001 – conhecida como Lei das SAs, ou Sociedades por Ações –
instituiu padrões para a administração e a contabilidade das empresas
brasileiras de capital aberto e fechado.
Seu objetivo é
promover a igualdade entre acionistas e proteger os minoritários em especial,
de maneira a garantir seu direito a voto em decisões sobre os rumos dos
negócios. Todas as companhias que têm ações negociadas em bolsa de valores
no Brasil são reguladas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão
do governo que padroniza a divulgação de informações, como resultados
financeiros, operações de fusão e aquisição e comunicados diversos ao
mercado.
A legislação
brasileira e as normas ditadas pela CVM possuem padrões semelhantes aos
americanos e criaram mecanismos para evitar fraudes e proteger investidores
minoritários. Além disso, normas da própria BM&F Bovespa, a bolsa de
valores de São Paulo, classificam as empresas nela listadas de acordo com
o nível de governança e as práticas de gestão. Cada segmento de listagem
possui uma série de exigências às quais as companhias que ofertam ações no
mercado brasileiro precisam se ajustar.
Empresas que pertencem
ao segmento Novo Mercado, por exemplo, têm mais credibilidade junto a
investidores por se adequarem ao mais alto grau de exigência da BM&F
Bovespa. Do maior para o menor, são eles:
§ Novo Mercado;
§ Nível 2;
§ Nível 1;
§ Bovespa Mais
(a partir de maio/2014 para pequenas e médias empresas);
§ Tradicional.
Além do Ibovespa,
principal índice de ações do mercado brasileiro, empresas que investem em boa
governança também são listadas em índices à parte na BM&FBovespa (IGC,
IGCX e IGCT). Para fazerem parte desses índices, companhias se adaptam
voluntariamente a uma série de padrões que vão além das normas
estabelecidas por lei, como o alinhamento com práticas internacionais de
gestão.
Fonte: jornal Estadão