Nada é
mais moderno que envelhecer. Verso da canção de Arnaldo Antunes
Por mais que eu queira separar, para mim, a ideia de longevidade nunca figura isolada nas minhas
reflexões. Ela sempre vem associada a protagonismo, cidadania, autonomia. São bandeiras do
futuro! Porque a longevidade é um fenômeno democrático do
século 21.
Há quem esteja preocupado com a representação simbólica dessa longevidade. O
bonequinho alquebrado sobre a bengala não representa mais quem ultrapassa os
60. Ontem, no estacionamento do supermercado (quem me conhece, sabe que eu
detesto fazer compras) eu observei os septuagenários - que têm vagas para
reservadas - preferirem disputar as vagas com quem ainda não conquistou essa
prioridade. Pode parecer prosaico mas é bom lembrar que, no médio prazo,
a maioria será prioridade!
E eu fico pensando: quem é que
vai dar o recado para a sociedade?
Quem está pensando em continuar
baixando os degraus dos ônibus que fazem o transporte público?
Quem é que vai brigar por
calçadas melhores, para evitar acidentes?
Quem é que vai protagonizar uma mudança de qualidade na forma como as PESSOAS se preparam para viver essa
longevidade?
Relações familiares
Ontem, a Folha de S. Paulo publicou estatísticas sobre o aumento da violência
contra idosos no país. São apenas casos denunciados que integram os dados. Mas
o que me chama a atenção é que quase 40% dos registros se referem a abuso
financeiro e econômico ou violência patrimonial.
Quem se interessa por Educação
Financeira e Previdenciária sabe
que - além de golpes e assédio fraudulento a que idosos estão expostos - a
maior incidência desse tipo de violência acontece entre familiares do idoso, em
geral, quando recebem em confiança a responsabilidade de fazer a gestão
financeira do patrimônio do idoso. Também são frequentes os caso em que os
familiares - por meio de chantagem emocional - levam o idoso a tomar crédito
além de sua capacidade de pagar a dívida. Eu já escrevi sobre essa questão
aqui, mas é sempre bom lembrar disso.
É bom lembrar ainda que o capítulo sobre o Brasil nas pesquisas globais como O futuro da aposentadoria,
feita pelo HSBC, e A Nova Cara da Aposentadoria,
da Mongeral Aegon, mostram
simultaneamente um otimismo e um absurdo despreparo dos entrevistados em
relação ao futuro e a essa longevidade que eles experimentarão. Aqui, cabe um
chamado para quem faz Educação
Financeira e Previdenciária: intensifique a discussão da pauta longevidade junto a seus públicos de interesse!
Estimule o protagonismo.
Problematize e favoreça a CONVERSAÇÃO sobre longevidade.
Conquista e risco
A longevidade é uma conquista do século 21 para a
maioria dos cidadãos do planeta. A longevidade,
sem planejamento financeiro, sem preparo, é mais que um risco. E isso
precisa ser abordado de forma realista - não terrorista - com a sociedade,
especialmente entre os jovens.
Imagem
do Livro Vermelho do Facebook
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Parte do otimismo com que longevidade é percebida pela sociedade deve-se aos
sucessos, avanços e superações da Medicina. Há ainda um outro fator: o acesso e
as conexões sociais estabelecidas pelas PESSOAS por meio das novas tecnologias da
Comunicação e Informação.
Mas nada é perfeito e a longevidade,
sem preparo financeiro, com expectativas irreais de consumo pode voltar a se
transformar em um problema de saúde pública, considerando o crescimento em
escala da população idosa global.
Eu - por razões óbvias - acredito que é possível criar essa voz coletiva a
favor de uma consciência maior sobre a sustentabilidade da vida. É por isso que
estou escrevendo esse post. Mas eu não estou sozinha. Nunca estou sozinha.
Tenho comigo autores inspirados e vocacionados que estão escrevendo coisas
fantásticas, como é o caso do livro Previdência
Social na Sociedade de Risco: o desafio da solidariedade com sustentabilidade,
de Sílvio Renato Rangel
Silveira e Adeus aposentadoria - como garantir seu futuro sem
depender dos outros, de Gustavo
Cerbasi.
Em tempos de rede social, é impossível ser negligente. Em tempos de rede
social, é fundamental criar correntes de informação com qualidade. Somos do
século 21, podemos mudar o jeito que as PESSOAS falam, podemos mudar o mundo, como
prega Mark Zuckerberg, o
homem do Facebook.
Eliane Miraglia - mestre
em Ciências da Comunicação, especialista em Gestão de Processos Comunicacionais
e consultora de comunicação, tem participado em projetos com a Suporte
Educacional.