O ritmo de crescimento mundial apresentou um pequeno
desaquecimento em setembro – nosso indicador PMI Manufaturados Global passou de
52,2 pontos em agosto para 51,4 pontos no mês passado. A economia americana
manteve o forte ritmo de expansão, com aumento de encomendas e fortalecimento
do mercado de trabalho. No terceiro trimestre, foram criadas 671 mil vagas de
empregos e a taxa de desemprego caiu de 6,1% em junho para 5,9% em setembro. O
aumento da massa salarial tem beneficiado as decisões de consumo das famílias
e, consequentemente, as encomendas para as empresas. Esse ciclo virtuoso
sustenta nossa projeção de aceleração do PIB real de 2,3% nesse ano para 3,5%
em 2015.
Na zona do Euro, a produção industrial e a confiança dos
empresários deterioraram recentemente. No entanto, entendemos que parte do
desaquecimento é temporário, já que as vendas de varejo continuam em
recuperação e a retomada do consumo americano colaborará para as exportações da
região. Aproveitamos para reforçar nossa visão mais otimista com a Espanha, já
que o ritmo de expansão do emprego segue firme e a expectativa do setor
varejista continua historicamente elevada.
Os países emergentes também surpreenderam
negativamente nos últimos dois meses, tanto nos asiáticos quanto nos latinos. A
visão de menor expansão mundial gerou queda dos preços das commodities no
mercado internacional, o que prejudica o valor exportado dos países da
América Latina e, consequentemente, pressiona suas taxas de câmbio.
Desvalorização cambial reduz a possibilidade de importações e,
consequentemente, pode ser considerada um fator de contenção da demanda
doméstica.
Economia Brasileira
A atividade brasileira permanece em situação bastante frágil.
Mantemos nossa projeção de PIB real nulo para esse ano e retração em 2015, com
a expectativa de enfraquecimento da demanda doméstica. Entendemos que o consumo
das famílias e os investimentos devem continuar sendo impactados negativamente
por dois fatores:
1. Fatores externos: a forte queda do preço do minério de ferro
e da soja no mercado internacional prejudica nosso valor exportado e contribui
para o processo de desvalorização cambial. A redução do valor da nossa moeda é
um dos instrumentos que ‘expulsa’ as importações para evitar uma deterioração
adicional das contas externas. Um ajuste de importações é sinônimo de contenção
da demanda doméstica.
2. Fatores internos: a redução da lucratividade das empresas com
o aumento do custo do trabalho ao longo dos últimos anos deve continuar
inibindo os investimentos e a contratação de novos trabalhadores. A recuperação
da atividade no médio prazo passa (necessariamente) por um processo de aumento
da competitividade nacional, ou seja, precisamos de um ajuste no mercado de
trabalho capaz de desaquecer o ritmo de aumento dos salários. Esse cenário de
estagnação da massa salarial real limitará adicionalmente o poder de compra das
famílias. Além disso, o aperto nas condições monetárias deverá continuar
restringindo as concessões de crédito. Por fim, a necessidade de ajuste fiscal
para conter o aumento da dívida pública também será outro ponto que contribuirá
para a queda da demanda doméstica.
Também não alteramos nossa estimativa de IPCA em torno de 6,3%
em 2014 e 2015, apesar da recente desvalorização da nossa moeda. Vamos
relembrar três pontos importantes:
a. Nossa projeção de IPCA já
incorpora desde o final do ano passado a hipótese de taxa de câmbio de R$ 2,45
/USD para esse ano.
b. Os preços das commodities no
mercado internacional recuaram substancialmente nos últimos meses.
Assim, nosso indicador de preço de commodities cotado em moeda local não sugere
pressão inflacionária significativa à frente.
c. A ausência de crescimento da demanda doméstica é
(evidentemente) desinflacionaria. O elevado nível de estoque minimiza o repasse cambial aos preços
finais, pois a indústria precisa diminuir os estoques indesejados em ambiente
de fraco consumo doméstico.
Portanto, a combinação de uma correção no mercado de trabalho e
a queda dos preços de commodities suportam nossa maior preocupação com a
fraqueza da atividade local.
Eduardo Yuki – economista-chefe do BNP Paribas Asset
Management, possui mestrado em teoria econômica.
Fonte: Investidor Institucional