Credito
de Imagem: https://theberkshireedge.com
O ano era 1973. O hit das paradas
de sucesso era o rock progressivo. A humanidade havia dado o primeiro passo
fora da Terra poucos anos antes. Na quarta faixa do álbum “The Dark Side of the
Moon”, gravado em um estúdio londrino na Abbey Road, o Pink Floyd imortalizou a
canção “Time”.
Tempo. Não desacelera nem para. A moeda mais valiosa que
alguém pode ter na vida, mesmo sendo um conceito abstrato, derivado da rotação
axial da Terra e de suas revoluções orbitais em torno do Sol. Tempo é uma moeda que não compra nada, mas está no
preço de tudo. Uma moeda que você nunca pode ter de volta depois que gasta.
O tempo é tão precioso, que nem juntando todo o
dinheiro do mundo você é capaz de comprar um minuto dele.
Se por um lado ninguém pode comprar tempo, incrivelmente por outro, qualquer um
pode ganhar tempo e não existe um meio melhor para
fazer isso do que com o uso de tecnologia.
Novas tecnologias são ferramentas
importantes para organizações que estejam tentando se reinventar, como os
fundos de pensão. Os fundos precisam abraçar as novas tecnologias para se
alavancar, para superar a atual descontinuidade competitiva e criar um modelo
inovador e sustentável de negócios.
Isso pode ser feio de muitas
maneiras. Seja através de parcerias, colaboração ou joint-ventures dos fundos
de pensão com incubadoras, aceleradoras e fundos de venture capital, seja por
intermédio de M&A mesmo - as provisões para fomento servem para quê
afinal?
Startups de tecnologia e fundos de
pensão podem ser potenciais aliados, unindo de um lado as soluções que podem
causar (dis)rupturas e do outro, estabilidade, conhecimento de mercado, acesso
aos participantes e poder financeiro. Os dois mundos poderiam evitar fricção
e ganhar tempo, apoiando e complementando as forças e
capacitações um do outro.
As startups de tecnologia são
conhecidas por suas inovações e os impactos potenciais que podem causar nos
negócios, pelo tempo e escala necessários
para se desenvolverem e pela dificuldade em atrair o nível de financiamento
requerido para transformar suas invenções em produtos e serviços comerciais
viáveis. Os fundos de pensão podem, perfeitamente, ajudar a preencher as
lacunas e encurtar os desafios, gerando ganhos para todos.
Mesmo antes da crise causada pelo
Covid-19, as startups de tecnologia já vinham sofrendo para atrair
investidores. Incapazes de obter capital no mercado de ações ou atrair
investidores institucionais, empresas jovens e inovadoras dependem do dinheiro
de fundos de venture capital para dar certo. Esses, porem, além de muito seletivos,
representam menos de 10% do capital total disponível para
investimentos.
A experiência, conhecimento e
capital que os fundos de pensão podem colocar na mesa seriam capazes de
acelerar o ciclo de desenvolvimento-teste-ajuste-implantação das soluções,
reduzindo tanto o horizonte de tempo como o
capital necessário.
Blockchain e DeFi são apenas duas
das inúmeras tecnologias promissoras para os fundos de pensão. Ainda é difícil
antecipar que aplicações inovadoras serão desenvolvidas com o uso dessas
tecnologias de ponta, na medida em que as dificuldades existentes forem sendo
superadas.
Para essas e outras tecnologias
pularem do mudo digital para o dia-a-dia, precisamos estabelecer pontes entre
as soluções conceituais e seu uso comercial, permitindo assim que os fundos de
pensão colham benefícios mais rapidamente. Essas pontes serão construídas a
partir da imaginação e de uma taxa de aprendizado mais rápido por parte
daqueles que tomam decisão. No caso dos fundos de pensão, conselheiros e
diretores. A imaginação permite vislumbrar soluções inovadoras para problemas
comuns e remove barreiras. O aprendizado encurta e acelera o ciclo de aprovação
e implantação das inovações.
As revoluções tecnológicas se
juntam com as transformações sociais para marcar no tempo os saltos da humanidade em direção a cada
nova era.
Após a interrupção das atividades
imposta pela II Guerra Mundial, a retomada gerou um boom econômico e um
crescimento mundial sem precedentes, resultando em décadas de prosperidade e
melhoria de vida das pessoas em todo o planeta. Foi um período de incontáveis
inovações como o radar, o avião a jato, a penicilina, a borracha sintética, a
energia nuclear, a radio-navegação e o primeiro computador digital com tubos a
vácuo. Em 1950 a Revista Times (olha ele
ai de novo!) usou pela primeira vez o termo Wirtschaftswunder,
milagre econômico em alemão, para descrever a rápida reconstrução da Alemanha
Ocidental e da Áustria, devastadas pela guerra.
A combustão das transformações
sociais está sendo iniciada, agora, pela fagulha do Covid-19, a maior
descontinuidade das atividades humanas nos tempos modernos. Cientistas cunharam
até o termo "antropopausa" para se referir a esse período cujas
implicações só poderão ser verdadeiramente conhecidas em analises retrospectivas.
A retomada iniciará um novo ciclo, alavancado por inovações que moldarão um
mundo ainda melhor, mais rico, mais saudável, mais sustentável e tomara, mais
humano.
Crises da magnitude do Covid-19
aceleram tendências e antecipam o médio e o longo prazos. A interrupção dos
negócios colocou as empresas e fundos de pensão no modo de sobrevivência de
curto prazo. Passado esse momento, em que as organizações desviaram o foco dos
aspectos comerciais e de mercado e se concentraram no social, o pós-Covid-19
tem tudo para criar um ambiente favorável à colaboração, ao interesse comum e à
busca de resultados levando em consideração valores humanos.
Os conselhos deliberativos dos
fundos de pensão precisam elevar o alcance de seu olhar e adotar uma visão de longo
prazo. Precisam construir um modelo de negócios sustentável, baseado em
investimentos responsáveis, abraçando novas tecnologias e soluções que
beneficiarão seus participantes e as novas gerações.
As organizações costumam reagir às
crises de forma lenta, defensiva e pouco eficiente, mas as crises geralmente
trazem oportunidades junto com elas. Se quiserem aproveitar essas
oportunidades, os fundos de pensão terão que fazer mais do que apenas assumir
uma posição defensiva. A tecnologia está ao alcance de todos. O controle
do tempo, não.
Eder Carvalhaes da Costa e Silva – atuário, consultor independente
Fonte: Adaptado do artigo “How Deep
Tech Can Help Shape the New Reality”, escrito por Massimo Portincaso, Antoine
Gourévitch, Stefan Gross-Selbeck e Tom Reichert.