Educação dos ricos também preocupa
Quando olhamos de
perto, vários deles contribuem muito pouco para a sociedade.
É difícil imaginar o desenvolvimento de uma nação sem a
participação ativa dos mais abastados.
Aqueles que, por capricho do destino,
nasceram em ambientes muito privilegiados carregam consigo vastas
possibilidades de ajudar na construção de melhores oportunidades para os menos
afortunados.
Alguns decidem agir nessa direção.
Eles se engajam
em atividades filantrópicas e utilizam seus talentos e recursos, muitas vezes
herdados do trabalho de gerações passadas, para beneficiar aqueles ao seu
redor.
Esses indivíduos representam agentes de mudança que reconhecem, mesmo
que marginalmente, suas vantagens hereditárias e buscam contribuir para a
formação de uma estrutura social mais inclusiva.
Contudo, como em qualquer grupo, as atitudes
individuais variam consideravelmente, e nem todos ultrapassam os limites de seus
próprios interesses. Essa diversidade de comportamento é moldada pela educação.
O constante processo de transferência de
conhecimento, valores e culturas de uma geração para outra influencia não só em
que medida a conduta de um indivíduo varia ou se integra em relação ao seu
grupo como também à sociedade.
Em países muito desiguais, a segregação socioeconômica cria
um profundo fosso nas possibilidades de interação e compartilhamento de
conhecimento, valores e culturas entre os distintos subgrupos populacionais.
Parte daqueles que não enfrentaram limitações financeiras em suas vidas
frequentemente possui uma compreensão muito limitada das lutas diárias
enfrentadas pela classe trabalhadora.
Indivíduos criados em famílias abastadas têm suas
necessidades prontamente atendidas, o que não apenas impacta a quantidade de
esforço que escolherão investir em diferentes etapas do jogo da vida, mas
também tende a contribuir para uma falta de empatia em relação aos mais pobres
e às dificuldades daqueles que dependem do trabalho para garantir o mínimo de
subsistência.
Além disso, tem-se que as prioridades das pessoas
são moldadas por seus valores.
Em muitos círculos sociais considerados de
"alta classe" há uma cultura que valoriza o consumo de luxo e a ostentação de
riqueza, e isso não ocorre por acaso.
O exibicionismo
frequentemente transmite uma imagem de sucesso, criando uma falsa associação
entre riqueza e valor.
Muitos, equivocadamente, relacionam riqueza à posse de
habilidades excepcionais, ignorando que, em diversos casos, o indivíduo pouco
fez para atingir uma posição elevada além de ter nascido em uma família com
considerável privilégio material.
O valor de uma
pessoa não deveria estar vinculado à sua condição financeira.
Apesar de ser uma
visão reducionista de humanidade, é exatamente isso que parte daqueles
considerados como bem-sucedidos procuram promover.
A ênfase excessiva
em aparências, bens materiais e status social acaba obscurecendo uma
compreensão mais profunda de questões fundamentais da condição humana.
A
incessante busca pela promoção da própria imagem desvia a atenção de assuntos
mais substanciais, contribuindo para uma visão superficial da realidade.
Nesse contexto, a
associação da riqueza a valor cria uma miragem na qual vários ricos se
escondem. Pois, quando observamos um pouco mais de perto, percebemos que muitos
deles contribuem muito pouco, ou quase nada, para a
sociedade.
Sua posição privilegiada é mantida, em grande parte, porque ainda
existe uma construção cultural que tolera isso.
MICHAEL
FRANÇA
- ciclista, doutor em teoria econômica pela
Universidade de São Paulo; foi pesquisador visitante na Universidade Columbia e
é pesquisador do Insper.