Idosos
se sentem invisíveis, inúteis, desvalorizados e sozinhos.
Uma pergunta que sempre faço nas minhas pesquisas é:
“Quem vai cuidar de você na velhice?”. As mulheres respondem: eu mesma e minhas amigas. Já os homens dizem: minha
esposa, minhas filhas e minhas netas.
No entanto, homens e mulheres estão sofrendo por se
sentirem abandonados e esquecidos. Dizem: “Eu não tenho com quem conversar”.
Muitos perderam os melhores amigos e se sentem
solitários, como um professor de 96 anos: “Sou o último dos moicanos”. Outros
dizem que os filhos estão sempre preocupados com seus problemas profissionais e
pessoais e não têm tempo para eles. Alguns reclamam que os filhos e netos estão
sempre focados no celular e não demonstram interesse, paciência e curiosidade
por suas histórias, como uma escritora de 92 anos: “O celular é o umbigo dos
jovens, e eles só estão interessados no próprio umbigo”.
Eles não têm com quem conversar, com quem desabafar, com
quem compartilhar suas opiniões, seus medos e desejos. Por isso, sentem-se
invisíveis, inúteis e desvalorizados.
Minha querida amiga Gete, de 91 anos, me liga sempre:
“Adoro ouvir a sua vozinha. Como é bom ter você para me ouvir, ter uma amiga
para poder desabafar”. Meu melhor amigo, Guedes, de 96 anos, me liga quase
todas as noites só para me contar como foi o seu dia e saber como foi o meu.
Frequentemente me sinto triste e culpada por não ter
mais tempo para conversar com todos os meus amigos e amigas. Meu projeto de
vida é dedicar cada vez mais tempo para escutar com carinho os mais velhos. É
tão pouco, mas pode fazer toda a diferença na vida deles e, principalmente, na
minha.
Em tempos de tanta violência, ódio e medo, uma das
poucas coisas que me deixa feliz e dá significado à minha vida é escutar e
conviver com meus amigos nonagenários.
Você sabe escutar os mais velhos, com a atenção e o carinho que
eles merecem receber?
Mirian Goldenberg - antropóloga e professora da Universidade Federal do
Rio, é autora de "A Bela Velhice
Fonte: coluna jornal FSP