Aproveite a crise para mudar
comportamento, hábitos de consumo e repensar investimentos.
O Brasil vive um período de inferno astral, convivendo
simultaneamente com duas crises, política e econômica.
A inflação, medida pelo IPCA, de 9,92 % acumulado em 12 meses. A
meta de inflação de 4,5% ao ano não é cumprida há um bom tempo e nem mesmo a
banda de flutuação de dois pontos percentuais consegue manter a alta dos preços
dentro do limite.
O remédio administrado pelo governo para combater a inflação é,
mais uma vez, a elevação dos juros. A taxa Selic, no patamar de 14,15% ao ano,
é uma boa notícia para quem tem dinheiro para investir, mas ruim para o setor
produtivo da economia e para aqueles que precisam de crédito.
SEU BOLSO
O que você tem a ver com isso? Tudo a ver. Você já percebeu que
não consegue mais comprar as mesmas coisas com a mesma quantidade de dinheiro?
Pois esse é o efeito negativo da inflação sobre suas finanças. Perdemos poder
de compra porque nosso salário não subiu tanto quanto os preços dos produtos e
dos serviços que consumimos.
O que podemos fazer é apertar o cinto, reduzir ou cortar onde
for possível, substituir itens da nossa cesta de consumo por outros, menos
afetados pelo aumento generalizado de preços.
Como não podemos mexer nas contas essenciais, a saída é
identificar excessos que podemos cortar. Sempre aprendemos alguma coisa com as
crises; que esse aprendizado seja mantido e beneficie nossas finanças.
SEUS INVESTIMENTOS
Quem tem dinheiro aplicado precisa rever a carteira de
investimento e avaliar se deve mudar alguma coisa. Quem ainda não saiu da
caderneta de poupança, por exemplo, precisa pensar a respeito para tentar
reduzir as perdas.
O problema da poupança é que sua rentabilidade é prefixada em
0,5% ao mês mais a variação da TR, distante da taxa de juros vigente. A
rentabilidade acumulada em 2014 foi de 7,02%, ante 10,81% de taxa DI. Supondo o
pagamento de 15% de Imposto de Renda, a taxa DI líquida foi de 9,18%. Significa
dizer que o investidor deixou de ganhar mais de dois pontos percentuais no
período de apenas 12 meses. É muita coisa! O que você pode fazer para proteger
seu dinheiro?
O CDB-DI, por exemplo, é uma alternativa simples e
descomplicada. O dinheiro fica no mesmo banco em que está a conta-poupança, e a
natureza de risco do investimento (de crédito) não se altera. Nos grandes
bancos de varejo, é possível aplicar, com liquidez diária, e receber cerca de
95% da taxa DI. Quanto maior o prazo e o capital aplicado, maior será a
remuneração.
Quem tem horizonte de tempo mais longo e quer proteger seu
dinheiro contra a inflação pode pensar no título público Tesouro IPCA, que paga
a variação do IPCA, mais taxa de juros negociada no dia na compra. No dia 9
deste mês, o título mais curto, com vencimento em maio de 2019, podia ser
comprado com juros de 6,44% ao ano!
Quem gosta de saber quanto vai ganhar podia comprar, na mesma
data, o título Tesouro Prefixado com vencimento para 1º/1/2017 a 13,90% ao ano.
Os valores mínimos de aplicação são baixos, e os custos, também,
se comparados a fundos de investimentos e planos de previdência privada, por
exemplo. O preço oscila ao longo do tempo, mas a rentabilidade será exatamente
a taxa de juros contratada para aqueles que carregam o título até o vencimento.
SUA VIAGEM
A alta do dólar atinge, com um tiro certeiro, o orçamento da
viagem ao exterior que vem sendo planejada. Se a data está próxima e você ainda
não comprou moeda estrangeira suficiente para as despesas, não há muito o que
fazer. Talvez você possa reduzir o padrão da hospedagem, encurtar a estadia em
um ou dois dias e conter a euforia de consumo na cidade de destino.
Para evitar que esse risco se repita, acumule o dinheiro (em
reais) das próximas viagens em um fundo cambial ou compre a moeda estrangeira
aos poucos, evitando que a alta repentina da taxa de câmbio inviabilize seus
planos. Boa viagem!
Marcia Dessen - Certified Financial Planner, é
sócia do BMI (Brazilian Management Institute), diretora do IBCPF (Instituto
Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros) e autora do livro
"Finanças Pessoais: o que fazer com meu dinheiro" (Trevisan Editora,
2014).
Fonte: jornal FSP