Brasil é o país que mais acredita em fake news
Quase 90% dos
brasileiros já acreditaram em notícias falsas
Como mostrei na coluna "Somos uma nação nomofóbica: os brasileiros
passam mais de 9 horas por dia online", o Brasil é o segundo país do mundo
em que os usuários passam mais tempo no mundo virtual, perdendo apenas para a
África do Sul.
No entanto, ficamos em primeiríssimo lugar quando o problema é acreditar
em fake news.
Uma pesquisa da Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgada em junho de 2024, revelou os
países que têm maior habilidade para identificar fake news e quais enfrentam
mais dificuldades.
Entre os 40.756 entrevistados de 21 nações, o Brasil
ficou na última posição, sendo o país onde a população mais acredita em
notícias falsas.
O Instituto Locomotiva, em outra pesquisa de 2024,
revelou que 88% dos brasileiros já acreditaram em uma notícia que, depois,
descobriram ser falsa.
Desses, 64% já caíram em golpes envolvendo vendas de
produtos e 63% acreditaram em desinformação sobre propostas de campanhas
políticas e eleitorais.
Paradoxalmente, 62% afirmaram que confiam na própria
capacidade de diferenciar informações falsas de verdadeiras.
Todos os dias meu marido me mostra fake news que
recebeu pelo WhatsApp.
Eu não recebo tantas, talvez porque fique menos tempo
conectada nas redes sociais e não tenha grupos de amigos e de familiares no
WhatsApp.
Em algumas ele até acreditou, como a de que Oprah Winfrey disse que
iria se mudar para a Itália porque não poderia viver nos Estados Unidos durante
os próximos quatro anos e respirar o mesmo ar de Elon Musk.
Ele
acabou de me enviar um vídeo com uma historinha que logo suspeitei que fosse
falsa. Para minha surpresa, encontrei várias versões da mesma historinha no
Google e, por incrível que pareça, muita gente acredita que ela é verdadeira.
O vídeo diz que, na década de 1920, Albert Einstein viajou de carro para dar
conferências sobre a Teoria da Relatividade em universidades dos Estados
Unidos. Ao ser questionado sobre quem era a pessoa mais inteligente que
conhecia, Einstein respondeu: "meu motorista".
Certo dia, Einstein não estava se sentindo muito
bem e pensou em cancelar uma palestra em Dartmouth. Harry, seu motorista,
disse: "Dr. Einstein, eu já assisti à sua palestra mais de 60 vezes, já
sei suas ideias de cor e poderia dar a palestra em seu lugar".
Einstein gostou da ideia: "Eles não me
conhecem na escola. Então, quando chegarmos lá, você se apresenta como se fosse
eu para dar a palestra e eu vou ser o seu motorista".
Eles trocaram as
roupas e Einstein dirigiu o carro até o local. Algumas versões dizem que
Einstein se sentou na primeira fila do auditório, outras, na última, mas esse
detalhe não é importante.
Harry subiu ao palco e deu a palestra sem errar uma
única vírgula. No final, um professor fez uma pergunta bastante complicada.
Harry não se abalou: "A resposta para esse problema é muito simples e,
para mostrar como é simples, vou pedir ao meu motorista que responda à sua
pergunta". Einstein se levantou e respondeu brilhantemente.
Meu marido brincou que poderia ser verdade, pois
ele já assistiu tantas vezes às minhas palestras que poderia falar das minhas
pesquisas em qualquer lugar. E que eu nem precisaria ficar na plateia para
responder às perguntas mais complicadas.
E ainda me provocou: "Você acha que pode
existir fake news do bem?"
MIRIAN
GOLDENBERG - antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, é autora de "A Invenção de uma Bela Velhice"