É quase meia noite. Volto do trabalho pois tinha
dado aula naquela noite. Minha esposa mostra a lição de casa da nossa filha de
sete anos em que a professora pediu para que os alunos desenhassem um ser vivo
e ela tinha desenhado um morango. O que acha? Pergunta minha esposa. Bonito… –
respondo. Não é isso. Leia o que a professora pediu… – explicou. Hum? E daí? –
emendo. Um morango colhido está vivo ou morto? – questiono. Acho que está vivo
ainda, mas é uma reflexão muito profunda para este horário – respondo tentando
terminar aquele assunto pois ainda preciso jantar. Vou estudar mais sobre o
assunto amanhã. Diz minha esposa, não se dando por satisfeita.
Quando eu tinha sete anos (no século passado), esta
resposta era fácil. Era só procurar algo na Barsa ou Enciclopédia Britânica.
Além disso, a última palavra era do professor que era o detentor de todas as
verdades daquele assunto. Era uma época em que Plutão era um planeta e
ponto final. Um conhecimento era quase estático, passado de geração para
geração. Por esta razão, as enciclopédias eram muito bem cuidadas e ficavam em
lugar de destaque na sala de visitas. As pessoas tinham duas fases de
aprendizado na vida. Havia uma de acúmulo e outra de utilização do aprendizado
adquirido até se aposentar. Um ou outro conhecimento deveria ser resposto ou
adquirido, como explica Fernando Reinach, um dos mais brilhantes pensadores
brasileiros.
Mas agora a dinâmica do aprendizado é completamente
diferente. Minha filha não deveria ir ao Google, Wikipedia, o Quora, o
Reddit ou Yahoo! Respostas como fazíamos com a Barsa para encontrar a resposta
certa. Só os futuros fracassados na sociedade do conhecimento pegariam este
atalho. Mesmo porque, “a” resposta muitas vezes evolui ao longo do tempo (como
ocorreu com Plutão) ou é contextual; e a parte mais importante é entender a
lógica que sustenta aquele conhecimento para daí aprender e continuar
aprendendo pelo resto da vida. Esta é e será cada vez mais a demanda de
todas as pessoas, sejam crianças, adolescentes, adultos e até os aposentados.
Assim, haverá cada vez menos espaço para
instituições que ensinam o conhecimento decorado, estático e fragmentado, em
que se olha o futuro utilizando retrovisores. E mais oportunidades para questionar,
refletir e aprender como aprender para daí desenvolver o aprendiz curioso e
autônomo que desenvolve relações evolutivas entre os conhecimentos e constrói
significados e aplicações que devem ser úteis ao longo da sua vida.
É
neste contexto que boa parte dos melhores empreendedores ao redor do mundo está
não apenas investindo, mas aumentando seus aportes em startups de educação.
-
O Khan Academy,
talvez a startup de educação mais conhecida do mundo, já recebeu aportes de
Bill Gates, dos fundadores do Google, do fundador do eBay e até de Jorge Paulo
Lemann.
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Mark Zuckerberg liderou um aporte de mais de US$ 100 milhões na AltSchool, um conceito
inovador de micro escolas de ensino fundamental e foi acompanhado por diversos
investidores importantes como Andreessen Horowitz, John Doerr e Laurene Jobs,
viúva de Steve Jobs.
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Elon Musk fundou uma escola, a Ad Astra, para seus filhos e filhos dos funcionários das
suas empresas.
- No
Brasil, Jorge Paulo Lemann criou a Gera Ventures, um
fundo para investir apenas em negócios de educação.
E por que estão fazendo isto? Por que a educação é
o segmento que apresenta as maiores e melhores oportunidades neste século!
Marcelo
Nakagawa - Professor de Inovação e
Empreendedorismo do Insper
Fonte:
jornal ESTADÃO