Contra calote de patrões, trabalhadores imigrantes usam app



Muitos trabalhadores diaristas, como esses que buscam trabalho no Queens, deixam de denunciar calotes por estarem em situação irregular nos EUA.

 

Todo dia, logo após o nascer do Sol, homens de mochilas e botas de trabalho se reúnem em grupos perto de uma estação de metrô no bairro do Queens.

Eles estão em um dos maiores centros de trabalhadores diaristas da cidade de Nova York e esperam ser contratados.A maioria é de imigrantes sem documentos que relatam já ter tido problemas com empregadores.

Na luta contra o calote, seus celulares agora podem se tornar valiosos aliados.Após três anos de planejamento, um grupo de defesa de direitos dos imigrantes está lançando um aplicativo de smartphone para diaristas.Os trabalhadores serão capazes de registrar horários e salários, tirar fotos dos locais de trabalho, avaliar os empregadores e ajudar a identificar aqueles com histórico de retenção de salários.Poderão também enviar alertas instantâneos a outros trabalhadores.

“Isso vai mudar bastante a minha vida e a dos meus colegas”, disse o imigrante mexicano Omar Trinidad, por meio de um intérprete.Trinidad, 35, ajudou a desenvolver o aplicativo e lhe deu o nome de Jornalero — trabalhador diarista, em espanhol.

O aplicativo Jornalero começou como um projeto do New Immigrant Community Empowerment, conhecido como Nice, no Queens, e depois teve seu alcance expandido quando a organização que controla o grupo, a National Day Laborer Organizing Network, garantiu mais fundos.”Será um presente que os diaristas darão à classe trabalhadora dos EUA”, disse Pablo Alvarado, líder do grupo.

Sol Aramendi, ativista do Nice, juntou-se a Hana Georg, eletricista local, para propor a ideia aos operários.O Instituto do Trabalhador, programa da Escola de Relações Trabalhistas e Industriais da Universidade de Cornell, promoveu fóruns de trabalhadores em toda a cidade de Nova York para saber o que eles mais precisavam em um aplicativo.

Os diaristas queriam uma maneira fácil de controlar pagamentos, registrar detalhes sobre locais de trabalho inseguros e compartilhar fotos para identificar empregadores.Acima de tudo, queriam que tudo isso fosse feito anonimamente.

Segundo Trinidad, antes, quando seus salários não eram pagos, os trabalhadores eram incapazes de reagir. Por causa de sua situação irregular no país, eles tinham medo de denunciar o calote.

Agora, o aplicativo permite que os trabalhadores registrem suas horas e seus salários, que então são salvos em um perfil.Esse perfil, que exibe um número de telefone, mas não um nome, está ligado ao banco de dados da organização.

Se um trabalhador relata que não está sendo pago, ou que está sendo mal pago, o Nice entra em contato com o empregador.Se necessário, os advogados do Centro de Justiça Urbana, que auxiliam o Nice, ajudarão a recuperar os salários não pagos.

Os direitos dos diaristas ganharam tração no Conselho Municipal, que concedeu US$ 500 mil em agosto para expandir centros de trabalhadores.Pepe Soto, 40, trabalhador da construção civil do Peru, disse que os trabalhadores eram facilmente enganados por empreiteiros quando pediam seu pagamento. “Eles diziam: ‘Espere aqui, eu já volto’.E ficávamos lá esperando ingenuamente. Agora estamos mais alertas”, disse Soto.

Liz Robbins – articulista do jornal New York Times

Fonte: The NYT

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