O
título deste artigo pode parecer um pouco macabro (bem, talvez seja…), mas tem
momentos que precisamos tocar em assuntos que são meio “tabus” e temos que
chamar as coisas pelos seus verdadeiros nomes.
No final do ano, especialistas em finanças costumam ser bastante
requisitados pela mídia para responder perguntas sobre décimo terceiro, compras
de Natal, despesas de início de ano, férias e coisas afins. Todo ano é a mesma
coisa: as pessoas se sentem angustiadas e despreparadas, a despeito desses
eventos se repetirem todo ano.
Este ano deverá ser um pouco diferente (para pior) e pode ser
que o ano que vem seja pior ainda. Nossa economia está se enfraquecendo cada
vez mais e o endividamento da população está bastante alto para os nossos
padrões (e com os juros mais altos do mundo para complicar).
As pessoas precisarão aprender, “pela dor”, se preciso, a ter
alguma disciplina financeira e a consumir de forma mais realista e consistente
com suas possibilidades.
Vamos a uma das perguntas clássicas de final de ano: O que fazer
com o décimo terceiro? (assumindo que a pessoa tenha esse benefício).
Se a pessoa tiver dívidas de consumo (como rotativo do cartão de
crédito e cheque especial), deve direcionar 100% do valor para liquidar essas
dívidas.
Aí a pergunta que, geralmente, vem na sequência: “Mas e os
presentes de Natal? E as festas de final de ano? Não se deve reservar nada para
a família?”.
Alguns
especialistas falam em reservar “um pouquinho” para essas indulgências (sem
definir o que é “pouquinho”). Eu não hesito um segundo antes de sugerir que a
família (leia-se: festas de final de ano, presentes etc.) seja sacrificada. Eu
sei que é “politicamente correto” sugerir que se comemore as festas de fim de
ano de forma mais modesta, mas, sob certas circunstâncias, esse tipo de gasto
deve ser sacrificado sem dó, mesmo que cause um grande stress e um grande desconforto na família.
Ou devo lembrar que a taxa de juros média do rotativo do cartão
de crédito (368,27% ao ano – ANEFAC – pesquisa de outubro de 2015) é suficiente
para fazer uma dívida de mil reais pular para um milhão em quatro anos e meio?
Existe uma velha rima do mundo das finanças que diz “sob
pressão, diga não”. Se você está com dívidas e está sofrendo pressões da
família, diga não. É duro, é dolorido, mas, no final, será para o benefício de
todos. Não descuide da “sustentabilidade econômica” de sua família.
Cuidado com as armadilhas. Cuidado com as pressões consumistas.
Cuidado com o simpático “bom velhinho”, de trenó e roupas vermelhas, que foi
criado por uma grande corporação (que é um dos maiores símbolos de consumo do
mundo).
Pare de jogar o jogo do comércio, das grandes empresas e das
grandes corporações. Coloque a vida em ordem, organize as contas e livre-se da
escravidão das dívidas.
Se você está com as contas em ordem e quer entrar na onda do
final do ano, tudo bem. Quem fez a “lição de casa financeira” pode fazer o que
bem entender. Mas se não é o seu caso, faça o sacrifício agora para não ter que
fazer um sacrifício maior depois. E, se for para comemorar, comemore em seus
próprios termos.
No
final do ano passado, nesta mesma época, havia sugerido um Natal “diferente”,
comemorado em janeiro, um mês em que o equilíbrio de forças pende para o lado
do consumidor, e não do comércio.
As “dicas financeiras de final de ano” são fundamentalmente
repetitivas. São as mesmas dos anos anteriores e serão as mesmas nos anos
seguintes. Então, também serei repetitivo em minhas “dicas alternativas”.
Sacrifique o Natal “sem dó”, se for preciso e, se houver a possibilidade,
comemore em janeiro.
André Massaro -
escritor, palestrante, consultor financeiro.
Fonte: http://exame.abril.com.br/