Repensando o quarto hospitalar: O quarto de hospital como a nova fronteira do design


O bom design pode ajudar a curar doentes? O University Medical Center de Princeton percebeu alguns anos atrás que sua sede antiga já não atendia às suas necessidades. Era preciso uma sede nova. Então a direção decidiu projetar um modelo de quarto hospitalar.

Foram entrevistados pacientes e membros da equipe médica. Enfermeiros e médicos passaram meses espalhando anotações em Post-its por um quarto modelo montado no hospital velho. O quarto era para apenas um paciente. Tinha um grande sofá-cama para acompanhantes, uma vista para fora, uma caixa inovadora para remédios e um banheiro posicionado estrategicamente.

Foram instalados equipamentos e ensaiadas situações possíveis. Em seguida, pacientes reais foram trazidos da unidade cirúrgica -em sua maioria pessoas que tinham feito próteses de quadris e joelhos-, para comparar os quartos velhos com o novo. Depois de meses de testes, os pacientes no quarto modelo deram nota mais alta à comida e ao atendimento que os pacientes dos quartos velhos, embora a comida e o atendimento fossem iguais.

Mas o que realmente surpreendeu a todos foi que os pacientes no quarto modelo pediram 30% menos medicamentos contra a dor.

A redução da dor tem um efeito em cascata, acelerando a recuperação e reabilitação, reduzindo o tempo de permanência no hospital e diminuindo não apenas os custos, mas também as chances de acidentes e infecções.

Quando o novo hospital foi aberto em Plainsboro em 2012 -com 59 mil metros quadrados, e tendo custado US$ 523 milhões-, o quarto modelo virou realidade. Os índices de infecção e o número de acidentes nunca estiveram tão baixos.

Frequentemente ignorados pelos arquitetos mais famosos, deixando a cargo de especialistas corporativos a construção de prédios marcados pela insensibilidade, os hospitais representam uma fronteira crítica do design. Uma entidade beneficente britânica que promove o atendimento a pacientes com câncer, Maggie's Centres, convocou uma série de arquitetos famosos, como Rem Koolhaas, Frank Gehry, Snohetta e Norman Foster, para projetar hospitais. No Brasil, o arquiteto e urbanista João Filgueiras Lima, conhecido como Lelé (morto em maio, aos 82 anos), dedicou seus últimos anos a uma série notável de hospitais de reabilitação -simples, arejados e visualmente impactantes.

Mas o que talvez seja mais interessante é o fato de algumas firmas de design jovens estarem se interessando pela área. Não faz muito tempo, o Mass Design Group, de Boston, fez manchetes com um hospital em Ruanda que provocou alguma discussão em círculos profissionais sobre se o design com preocupação social também pode ser Arquitetura com A maiúscula.

Sob muitos aspectos, esse é um argumento central na arquitetura de hoje, com uma nova geração mais sintonizada com questões de responsabilidade social e bem-estar público. A discussão colocou em pauta uma questão mais ampla e fundamental sobre o papel dos arquitetos e até que ponto eles podem ou devem ser responsabilizados pelo funcionamento de construções.

No novo University Medical Center de Princeton, todos os quartos são individuais. Pesquisas revelam que pacientes que dividem quartos com outros dão menos informações importantes aos médicos. Os quartos incluem espaço amplo para visitantes, porque é comprovado que a presença de família e amigos acelera a recuperação dos doentes.

Há também alguns detalhes adicionais no plano do hospital de Princeton, como uma pia posicionada em plena vista do paciente, para que os médicos e enfermeiras não deixem de lavar as mãos e os pacientes possam vê-los fazendo-o. Há uma segunda pia no banheiro, que fica ao lado da cama. Um corrimão liga a cama ao banheiro, de modo que o paciente não precisa percorrer uma distância grande e as quedas são mais raras.

Todos os quartos têm a mesma orientação. Em muitos hospitais, os quartos adjacentes são "espelhados": compartilham uma parede, a que é situada atrás da cabeceira da cama, onde ficam todos os equipamentos médicos. Os quartos espelhados custam menos e ocupam menos espaço, mas exigem que tudo -a posição da cama, os tubos de soro, os botões para chamar enfermeiras ou médicos- seja invertido de um quarto a outro, da esquerda para a direita e da direita para a esquerda, e isso aumenta as chances de médicos e enfermeiras cometerem um engano quando estendem a mão para usar botões ou equipamentos.

Mas não está claro se as mudanças de design contribuíram para melhorar o atendimento prestado, nem em que medida, e isso frustra o executivo-chefe do hospital, Barry S. Rabner. Ele deu o exemplo do piso antibacteriano, que custou mais que um piso equivalente sem o agente antibacteriano. "É uma diferença de mais ou menos US$ 700 mil. E cadê a prova de que funciona?"

Rabner acha que os arquitetos deveriam oferecer mais pesquisas com resultados confirmados e, em contrapartida, deveriam receber mais se suas criações melhoram a saúde, conforme o prometido.

"É difícil isolar um elemento particular do design e dizer que seja responsável por um certo resultado de saúde", ponderou Christopher Korsh, o arquiteto principal do projeto de Princeton.

Rabner disse que foi sua equipe hospitalar, em colaboração com Korsh, quem criou a ideia de uma caixa com fechadura dupla na qual guardar medicamentos em cada quarto. A caixa pode ser aberta por enfermeiros dentro do quarto do paciente, mas também desde o corredor, do lado de fora. Assim, ao invés do método tradicional de separar os medicamentos -em que enfermeiros tiram de um só armário os medicamentos para todos os pacientes de um andar, um sistema que favorece erros-, os farmacêuticos agora podem enviar medicamentos a partir do corredor para o quarto de cada paciente.

Ok, mas o quarto é bonito?

Não. É menos antisséptico, menos cheio de objetos e equipamentos e tem aparência menos clínica que o quarto hospitalar comum. O quarto tem dignidade, algo que é importante para a saúde mental do paciente. E, o que é mais importante, funciona.

Michael Kimmelman – jornalista do New York Times

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