OS CÁLCULOS
ATUARIAIS EM PROCESSOS DE M&A
Tomar boas decisões é importante,
tanto para nossa vida pessoal quanto para investimentos.
Como as decisões que
tomamos hoje têm um impacto significativo no nosso futuro, é essencial que
comecemos a aprimorar o nosso processo decisório para mitigar riscos futuros.
É
muito comum avaliamos a atratividade de um investimento como um negócio
estático, onde os fluxos de caixa futuros resultam principalmente das decisões
tomadas no passado.
Mas, embora os resultados e decisões anteriores tenham
impacto na situação atual de uma Companhia, o futuro é totalmente incerto e
altamente influenciado por fatores como volatilidade do mercado, preço da
matéria prima, concorrência e cenários econômicos.
Assim, quando tomamos uma decisão com
base apenas na situação atual, podemos perder oportunidades promissoras.
Mas se
estivermos abertos para abraçar a incerteza, explorar oportunidades e
aproveitá-las, podemos mudar o caminho do negócio e aumentar o valor de uma
Companhia.
Quantificar com precisão a estratégia futura é a chave para uma boa
tomada de decisão. Temos que mudar a perspectiva e passar do foco na avaliação
DCF (Discounted Cash Flow) estática para a avaliação de estratégias completas.
O que significa que precisamos ver as decisões não como isoladas, mas como
parte de um sistema de interações. Ao avaliarmos os investimentos potenciais,
não olhamos apenas para o seu valor hoje, mas também para as oportunidades de crescimento
futuro disponíveis e suas respectivas probabilidades de concretização.
Para que possamos avaliar as
estratégicas completas, utilizamos o NPV expandido (Net Present Value), que
reúne técnicas do DCF com a teoria dos jogos.
Como isso é feito?
Inicialmente
vale comentar que o DCF é um método que funciona bem ao determinarmos o valor
presente dos ativos existentes de uma empresa. Porém, ele explica apenas uma
parte do valor total da Companhia.
É necessário incluir nessa fórmula o valor
das oportunidades futuras que estão em jogo.
O PVGO (Present Value of Growth
Oportunities) é um componente onipresente e muitas vezes substancial no valor
de mercado de uma empresa, especialmente em empresas inovadoras que estão em um
ambiente de constante mudança.
O PVGO reflete as opções futuras de uma empresa
sobre ativos reais.
Por exemplo, pense em uma start-up: elas podem ainda não
gerar um fluxo de caixa positivo, mas têm um alto valor de mercado devido às
suas opções de crescimento.
Claramente, aqui, uma análise DCF estática não é
suficiente para capturar o valor de mercado dessa empresa.
Além disso, devemos
levar em consideração que todas as oportunidades futuras são vulneráveis às ações dos
concorrentes.
Todas as empresas têm oportunidades promissoras no futuro? Não,
claro… segmentos diferentes, modelos diferentes.
No modelo NPV, seus concorrentes são
os outros jogadores.
Cada movimento deles exerce influência na sua próxima
decisão.
É aí que entra a teoria dos jogos. Quando você pode antecipar o
movimento dos outros jogadores, você cria uma vantagem competitiva fundamental.
A teoria dos jogos não é nova, mas pode ser aplicada de uma forma combinada.
O método escolhido depende do negócio
de cada empresa. Não há uma fórmula-padrão, por razões óbvias: as oportunidades
de uma seguradora, por exemplo, são totalmente distintas de uma mineradora.
Mas
porque utilizar um atuário nesse processo?
Porque atuários são especialistas em
avaliar e gerenciar riscos, além de estarem especialmente envolvidos em
determinados segmentos de mercado, como Seguros, Saúde e Previdência,
entendendo de perto como funcionam os fluxos de caixa dessas Companhias.
O mercado de fusões e aquisições anda
bastante aquecido e tem demonstrado um interesse especial na participação de
atuários nos processos de valuation.
No
entanto, as técnicas aqui mencionadas podem ser aplicadas também como
estratégias internas para redirecionar a Companhia em seu nicho e aproveitar
oportunidades antes não mensuradas.
Tomar decisões apenas olhando a performance
passada cria um abismo em relação à concorrência e pode levar empresas, hoje
bem posicionadas, a perder espaço num futuro muito próximo.
Embora alguns
líderes ainda tenham receio em tomar decisões em meio à incertezas, há
metodologias eficazes que podem auxiliar na escolha de grandes oportunidades de
negócio.
Andrea Mente - atuária e sócia da Assistants, formada pela
PUC-SP com especialização em gerenciamento de risco pela UCLM e em Valuation
pela Erasmus School of Economics.