Quando comecei a estudar os princípios de investimentos,
aprendi que existe um tripé que sustenta a decisão do investidor quando examina
as alternativas disponíveis em busca da aplicação mais adequada: segurança,
rentabilidade e liquidez. Aprendi também que esses atributos não andam juntos;
quando o investidor privilegia um, abre mão de outro.
Segurança se refere ao nível de risco que estamos
dispostos a correr. Dado o nível de risco aceitável, definimos a expectativa de
rentabilidade. A liquidez indica se poderemos reaver o capital, quando
quisermos, por um preço justo.
Para ordenar os atributos conforme sua importância
relativa, teremos a seguinte sequência: liquidez, liquidez e liquidez, nessa
ordem. Parece brincadeira, mas não é. Se não for possível reaver o capital
investido, tudo cai por terra.
Os milhões de brasileiros que perderam o emprego e os
pequenos e médios empresários que viram os negócios -e sua renda- dizimados
pela crise aprenderam do jeito mais difícil a importância de ter dinheiro
em caixa para seguir a vida.
Recentemente examinei uma carteira de investimento (R$
120 mil) composta por Tesouro IPCA, vencimento 2035, comprada com cupom de
juros de 5% ao ano; cotas de fundo de investimento multimercado cujo resgate,
quando solicitado, será feito 60 dias após a solicitação; e um COE de cinco
anos que não permite resgate antes do vencimento.
Pedi ao investidor que supusesse necessidade emergencial
de caixa de R$ 20 mil e perguntei que aplicação ele resgataria para gerar os
recursos necessários. Foi quando ele se deu conta de que não havia dado
à liquidez a devida importância.
Investimento em imóveis, por exemplo, apreciado por
investidores brasileiros, tem baixa liquidez. Pode levar meses (ou anos) para
vender um imóvel. Mesmo que o imóvel seja ótimo, bem conservado, bem
localizado, se o mercado estiver ruim, o investidor será obrigado a vendê-lo
por um valor inferior ao preço justo.
Aplicações em ativos financeiros também estão sujeitas
ao risco de liquidez. Vejamos exemplos, começando pela renda fixa. A poupança,
preferência nacional, permite saque a qualquer momento, porém pune com perda
dos rendimentos do último período os saques feitos fora da data de aniversário
da conta.
Aplicações em CDB, LCA e LCI podem ser feitas com ou sem
liquidez. Quando o investidor abre mão da liquidez durante um período de carência
ou sobre todo o período da operação, a rentabilidade será maior. O banco
pagará, por exemplo, 90% do CDI em uma LCI sem liquidez e 85% do CDI na mesma
LCI com liquidez.
O Tesouro Nacional oferece liquidez diária aos títulos
públicos. Entretanto o preço de venda dos títulos de taxa prefixada só será
favorável ao investidor se a taxa de juros negociada na compra
se mantiver estável ou cair.
Embora a maioria dos fundos de investimento adote
critério de conversão de cotas no mesmo dia ou dia seguinte ao pedido, alguns
fundos, de mais risco, normalmente distribuídos somente a investidores
qualificados, podem exigir alguns meses de carência para converter as cotas em
dinheiro. Se o cotista não puder esperar, pagará uma multa, 5% por exemplo,
prevista no regulamento. A lâmina (leitura obrigatória) traz essa informação.
Fundo imobiliário não admite resgate de cotas. Para
recuperar o capital investido, o investidor deve vender suas cotas no mercado,
pelo preço que o comprador (se houver) estiver disposto a pagar.
Investimentos em renda variável, seja pela aquisição de
ações direto em Bolsa, seja pela adesão a fundos de investimento, são bastante
líquidos. É possível, no limite, comprar e vender ações no mesmo dia. Liquidez
alta para compensar o elevado risco de mercado (volatilidade no preço). A
liquidez elevada não significa que a venda será feita por um bom preço. Muitas
vezes, para alcançar o retorno esperado, é preciso esperar um momento mais
favorável, que pode demorar meses ou anos.
Onde investir sua reserva financeira, aquele
indispensável colchão de liquidez necessário para as emergências? Tesouro
Selic; fundo DI; CDB, LCI, LCA sem carência. Poupança, observada a data de
aniversário, também. Você receberá os juros do período decorrido da operação, sendo
nula a chance de perder dinheiro em razão de flutuação de preço
Marcia
Dessen -
planejadora financeira pessoal, diretora do Planejar e autora do livro
'Finanças Pessoais: o que Fazer com Meu Dinheiro'.
Fonte:
coluna FSP