Nobel diverte com história da economia comportamental


Obra de Richard Thaler reúne descobertas, controvérsias e aplicação prática

 

Em um dia em que a demanda por táxis está alta, a atitude mais óbvia para os motoristas, do ponto de vista econômico, seria trabalhar bastante para aproveitar a oportunidade.

Mas não é assim que humanos pensam, como repete o economista Richard Thaler em inúmeras passagens de seu livro "Missbehaving" (algo como comportamento desviante), sua primeira obra publicada no Brasil.

Laureado com o Nobel de Economia de 2017, ele verificou que muitos motoristas fixam uma meta de ganhos para seu dia. Caso cheguem lá em poucas horas, vão para casa comemorar mais cedo, em vez de aproveitar o dia de faturamento abundante e descansar depois. 

O livro de Thaler, um dos criadores da economia comportamental, que usa conhecimentos da psicologia para desafiar a racionalidade econômica, , está repleto de exemplos coletados pelo autor de situações em que humanos desviam da racionalidade dos modelos matemáticos.

Thaler diverte ao citar exemplos como a pessoa que fica por horas cortando a grama de casa em vez de pagar US$ 10 para que alguém faça o serviço, mas que não toparia cuidar do jardim do vizinho por US$ 20, ou de quem prefere pegar um empréstimo caro a tirar dinheiro da poupança.

"Missbehaving" dedica capítulos à tomada de decisões em programas de auditório e ao futebol americano, mas não é um livro de curiosidades.


Richard Thaler, professor da Universidade de Chicago e Prêmio Nobel de Economia de 2017 - ‚

 

A obra entrelaça a biografia de Thaler com as origens da disciplina que ajudou a fundar, junto a desbravadores como os célebres psicólogos israelenses Daniel Kahneman e Amós Tversky.

Começa no nascimento da economia comportamental como ramo de estudos marginalizado e mostra como ela se tornou influente na definição de políticas públicas, ajudando pessoas a poupar mais para a aposentadoria ou evitando sonegação de impostos.

O livro cita artigos de referência da área, eventos que ajudaram a disseminar essa nova forma de pensar e debates acalorados entre os rebeldes comportamentais e conservadores, nos quais desfilam muitos laureados com o Nobel nos dois lados.

Naturalmente Thaler sai como vencedor nas disputas que narra. Mesmo assim, seu texto não passa arrogância. Pelo contrário, há uma dose saudável de autodepreciação desde a introdução, em que Thaler revela sua preguiça, e o autor faz questão de ressaltar que tinha parceiros de trabalho melhores em várias áreas.

O brilhantismo do texto tem seu melhor momento no capítulo 28, em que o autor narra o alvoroço criado na Universidade de Chicago quando uma série de professores de renome teve de escolher uma nova sala em processo tão detalhado quanto caótico. Tudo porque sobrevalorizaram a importância da metragem das salas, uma das poucas informações disponíveis.

Apesar de o livro ser acessível para quem não é especialista, alguns capítulos exigem mais do leitor, principalmente quando Thaler discute os comportamentos pouco racionais no mercado financeiro.

Mesmo assim, ele pode ser amplamente recomendado por diversos motivos. Por expandir o debate econômico, mostrar os bastidores da academia, apresentar estudos engenhosos, dar indicações de como usar a ciência para melhorar o mundo e ajudar a entender melhor como agimos.

ACHADOS COMPORTAMENTAIS

Aversão a perdas | No geral, perder algo faz a pessoa sofrer duas vezes mais do que ela se alegraria ganhando a mesma coisa

Dinheiro da casa | Apostadores assumem mais risco com o que ganham ao longo do jogo, como se não fosse deles

Justiça | As pessoas topam pagar caro por uma cerveja comprada em um hotel chique, mas não em um bar descuidado, mesmo querendo muito

Efeito posse | Um objeto que se tem é mais valorizado do que o mesmo item com outro dono

Fonte: jornal FSP

 

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