Era época de Natal e eu voltava
sozinha para o meu antigo prédio. Ao sair do carro, fui abordada por duas
crianças com cerca de 7 anos, moradoras do condomínio, que traziam nas mãos uma
série de desenhos. Chegaram falando: “Senhora, senhora! Gostaria de ver os
nossos desenhos? Um é diferente do outro, mas todos são muito bonitinhos”.
Parei para ver os desenhos, que elas haviam passado a tarde fazendo, e a cada
um que via, elas explicavam um pouco mais. Estavam vendendo cada desenho por R$
1,00, mas se eu levasse 3, ficaria R$ 2,00. Elas também pensaram em tamanhos
menores, que poderiam ser vendidos a metade do preço caso os compradores só
tivessem moedas de R$ 0,50.
Eu já havia visto a mesma
duplinha vendendo outras coisas outro dia. Pegaram uma mesinha, colocaram na
garagem, e em cima da mesa estavam brinquedos e revistinhas que elas já não
usavam mais. Uma vendia, a outra recebia o pagamento. Quem entrava no prédio
era abordado: “Senhor! Senhora!”. Alguns paravam, muitos riam, outros passavam
reto. E é claro que naquele dia fiquei com alguns desenhos e elogiei a
iniciativa.
Elas estavam juntando dinheiro
porque afinal, segunda elas, era Natal e queriam comprar algumas coisas para
presentear a família. Naturalmente aquelas crianças não precisariam
vender nada se não quisessem (financeiramente falando), mas pela segunda vez as
via colocando a mão na massa, sem medo de arriscar, e se divertindo muito com a
situação. A cada venda ficavam saltitantes e felizes da vida.
Então me lembrei de quando eu
mesma era criança e adorava fazer e vender coisas. Me pergunto onde foi parar
toda aquela cara de pau que eu tinha, pois vendia laços de cetim (que eu nem
sabia costurar direito), flores de sabonete (que minha avó me ajudava a fazer)
e até agendas “artesanais”, que não eram mais do que um caderno cheio de
adesivos. E não é que vendia? Em casa, eu e meu irmão, que sempre foi muito bom
em desenhar, inventávamos inclusive alguns álbuns para vender as figurinhas.
Era assim: eu escrevia as histórias e ele fazia os desenhos. Aí recortava,
colocava em saquinhos e lá íamos nós vender para os parentes. E quando íamos
passar as férias no interior, entre as brincadeiras com nossos primos da mesma
idade, também fazíamos rifas, que íamos vender a pé por todos os cantos da
minúscula cidade de Iacanga.
Lembrei destes causos todos
porque quando pensamos em empreendedorismo precisamos lembrar que, apesar de
todas as dificuldades que possam aparecer no caminho, é fundamental aprender a
deixar a situação toda mais leve, e as crianças, quando brincam de empreender,
quando não são reprimidas neste aspecto e podem usar a criatividade e arriscar,
tendem a nos ensinar muitas coisas de que acabamos nos esquecendo ao longo da
vida.
É normal que quanto mais a
idade chega, mais o medo aumente. Afinal, parece que não temos mais o mesmo
direito de errar ou de recomeçar como tínhamos antes. É claro que provavelmente
temos mais responsabilidades, mas ao mesmo tempo, é muito importante não deixar
de ter coragem e perseverança por conta disso, senão tendemos a nos acomodar
por simples medo de que as coisas deem errado.
Outro dia, li um texto onde o
autor sugeria que deveríamos estimular sempre este espírito empreendedor que
boa parte das crianças têm. Apesar de ser tudo uma grande brincadeira, quando a
brincadeira também pode ensinar alguns pontos legais que farão diferença na
vida adulta, é muito importante não reprimir. E é claro, por que nós, como
adultos, não tentamos resgatar algumas destas características, sensações e
comportamentos que se perderam ao longo das décadas? Talvez pudéssemos olhar a
vida de uma forma diferente e conseguir resultados bem melhores, além de nos
divertir bem mais! Vamos lá a algumas sugestões?
1. Ouse mais. Seja criativo e inovador – Crianças são criativas por natureza porque não têm medo de
arriscar, não têm medo do que os outros vão pensar. É esta criatividade que
pode fazer a diferença em diversos negócios reais. É sempre bom pensar em
coisas que não estão sendo pensadas e jeitos novos de fazer. É desta forma,
inclusive, que a maioria das startups começa.
2. Não tenha medo de errar – Errou? Faz parte do risco. Não deixe de fazer certas coisas que
podem dar certo por conta disso. É muito mais fácil ficar na zona de conforto,
mas desta forma não colhemos novas possibilidades. Se der errado, sempre há uma
possibilidade de recomeço.
3. Não tenha medo de vender – Se você tem um produto ou serviço legal, mas não vende direito,
não adianta muito. Procure formas de oferecer seu negócio ao público que
poderia comprá-lo. Não tenha vergonha de oferecer. Estude, converse com quem
sabe caso esteja perdido. Confie!
4. Seja o seu primeiro fã – A pergunta a ser feita é: “Eu, no lugar do cliente, gostaria do
meu próprio produto?” ou “O que preciso fazer para melhorá-lo?”. Quando as duas
meninas vieram me oferecer seus desenhos, certamente estavam muito orgulhosas
de seu trabalho. E uma fazia questão de dizer que a outra ajudou, que uma
desenhou mas a outra pintou, e etc. E tudo isso acaba empolgando quem ouve
também.
5. Improvise – Talvez não esteja tudo 100% para que você possa começar ou dar
andamento ao empreendimento dos sonhos. Neste caso, simplesmente comece. Em
startups é comum ouvir a frase: “Feito é melhor que perfeito”. Improvise,
comece, e depois vá acertando.
6. Divirta-se com o que está fazendo –
Muitas vezes o trabalho na vida adulta pode
parecer chato e empreender pode trazer muitas dores de cabeça, mas que tal
pararmos um momento para tentar entender o sentido de tudo isso que estamos
fazendo hoje e procurar dar mais atenção às coisas positivas do que às
negativas? É fundamental que possamos nos divertir minimamente em tudo que
fazemos, caso contrário a vida não tem sentido. E isso, ah! as crianças sabem
ensinar muito bem!
Janaína Gimael.- Jornalista, tem especialização em Economia para Jornalistas e
extensão em Psicologia Econômica. É editora do site Leve Seu Cachorro, e especialista em Marketing Digital e Gerenciamento de
Redes Sociais.