O medo foi dado ao homem como uma informação
sistêmica, um estado de alerta, um chamado à ação diante dos barulhos da
floresta, da escuridão da noite, diante do que se anuncia.
Esses alertas são fundamentais para compreender
tempo e espaço, mas é preciso cuidar para que o medo não paralise. Como dizia
um amigo, o medo de ficar para trás deve levar as pessoas para a frente.
Com crise ou sem crise, as coisas estão mudando em
altíssima velocidade. A revolução é tão grande que, se você esperar ela passar,
quem vai passar é você.
Não dá para ficar olhando o futuro com medo. As
pessoas falam muito do futuro e ficam praticando o passado. Como definiu Peter
Drucker, "a melhor maneira de prever o futuro é criá-lo".
E o futuro não é nada trivial. Ele não é binário,
não é bem versus mal, certo contra errado. O futuro é complexo.
Muito terá de mudar dada a avalanche de
transformações em curso: uma revolução que parece tecnológica, mas que é acima
de tudo humana. A ambição e a compreensão humanas avançam na velocidade do
chip, do streaming, do processamento de dados coletados em proporções
infinitas.
E, se ninguém nunca conseguiu segurar a mente
humana, imagine segurar a mente humana alavancada pelos softwares e gadgets
disponíveis já na palma da mão e daqui a pouco dentro do nosso cérebro.
O futuro, por definição, sempre se impõe e ele pode
chegar de repente. As pessoas ficam discutindo sobre as reformas, que são
fundamentais. Mas quem vai implementar reformas, para o bem ou para o mal, será
a tecnologia. Isso já estava acontecendo no mercado de trabalho antes da
reforma do trabalho. Assim seguirá.
Uma das coisas que mais me assustam no nosso
ambiente político é que ele está pensando sempre com os elementos de hoje,
enquanto o futuro chega acelerado e pode posicionar todos nós antes de nós
tentarmos definir nossa posição.
No último encontro global da hypada Universidade
Singularity, na Califórnia, que acompanhei à distância (ah, a tecnologia), a
ideia era trazer o futuro para o presente. Daí a conclusão de que, mais
importante que pensar no ROI (retorno sobre o investimento, na sigla em
inglês), é preciso pensar no COI, o custo de ignorar (as mudanças, o futuro)
—ele pode ser letal.
O grande problema de uma crise como essa do Brasil
é que ela lhe enfia no curto prazo para baixar custos, agir taticamente,
sobreviver, que o resto resolvemos depois.
Mas, se, em vez de ficar só falando do futuro,
começarmos a praticá-lo, podemos encontrar na tecnologia e na sua interação com
mercados e consumidores caminhos para poupar tempo e esforço, simplificar a
produção, melhorar os serviços. E, assim, não só superar a crise como também
evitar de ser atropelado pelo próximo Uber —que virá.
Nesse novo túnel do tempo, a experiência não basta.
É preciso novos olhos e novas ideias. Na Singularity, teve quem definisse
experiência como fracasso. Se você ficar revisitando seu passado e as coisas
que já fez para projetá-las no futuro, corre grande risco de fracassar porque a
mudança hoje é brutal e rápida.
Foi o que vimos nas mais recentes eleições
americanas. O candidato eleito fez uma interpretação completamente
revolucionária dos dados que tinha, e sua campanha publicitária, feita em cima
dessa interpretação, levou a um resultado completamente inesperado por quase
todos.
E Trump presidente deve ser motivo suficiente para
você parar todo dia para pensar no futuro, e, sobretudo, praticá-lo.
Nizan Guanaes - publicitário baiano, é dono do maior grupo
publicitário do país, o ABC.
Fonte: coluna jornal FSP