'Velocidade com que consumimos informação começa a ficar lenta'

Consumo de informação perde velocidade

No dia 12, a popular série "The Walking Dead" voltou ao ar com episódios inéditos. Para atiçar os fãs, a Fox resolver fazer uma das experiências mais curiosas da história recente da televisão. O canal decidiu exibir duas temporadas e meia da série em 24 horas. Com um pequeno detalhe: o tempo de todos os episódios somados dá mais de 34 horas. Como resolver? Acelerando em 30% a velocidade de transmissão. Desse modo foi possível "comprimir" mais conteúdo no mesmo espaço de tempo.

O que parece excentricidade tem se tornado prática cada vez mais comum. Vivemos num mundo tão acelerado (e ansioso) que a velocidade usual com que consumimos informação começa a ficar lenta demais.

Um exemplo é o aplicativo para ouvir podcasts chamado Overcast. Ele vem com uma função chamada "smart speed", que acelera em 1,5 vez a velocidade do áudio.

Mais que isso, o aplicativo corta todas as pausas entre as palavras, colando-as umas às outras. Para completar, à medida que vai sendo usado nessa modalidade, o aplicativo vai informando "quantas horas de vida você economizou" graças à aceleração. A empresa informa que 50% dos usuários optam pela velocidade acelerada como padrão.

A tendência vale não só para conteúdo de entretenimento mas também para conteúdos acadêmicos. O escritor Clive Thompson, da revista "Wired", informa que 10% dos usuários dos vídeos educacionais da Khan Academy os assistem em velocidade mais rápida que o normal.

Para radicalizar ainda mais, um jovem programador norte-americano criou um aplicativo chamado Rightspeed (velocidade certa). Ele promete "treinar seu cérebro para ouvir audiolivros em velocidades ridículas". Por "ridículas" entenda-se até dez vezes a velocidade normal (a maior parte dos usuários, no entanto, estaciona em quatro vezes).

O que a ciência tem a dizer sobre isso? Um dos melhores trabalhos sobre o tema é o estudo "Usando Compressão Temporal para Tornar o Aprendizado Multimídia Mais Eficiente", dos pesquisadores Ray Pastore e Alfred Ritzhaupt. Analisando estudos desde a década 1950, eles afirmam que acelerar conteúdos multimídia em até 1,8 vez não prejudica o aprendizado. No entanto, eles fazem algumas recomendações. Por exemplo, que os conteúdos sejam acompanhados de imagens; que as palavras mais importantes apareçam visualmente na tela para ênfase; e que o usuário tenha a possibilidade de ouvir de novo ou alterar a velocidade quando quiser.

Segundo os autores, essa aceleração traz efeitos positivos. Por exemplo, permite comprimir mais propagandas em menor tempo em vídeos on-line. Ou, ainda, poupar o tempo de empresas com relação a programas de capacitação de funcionários. Se a tendência pegar, quem insistir em consumir informações no ritmo "normal" poderá ser visto como uma espécie de zumbi cognitivo. Tal como aqueles que habitam o universo da série "The Walking Dead".

Ronaldo Lemos - advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITSrio.org). Mestre em direito por Harvard. Pesquisador e representante do MIT Media Lab no Brasil

Fonte: coluna jornal FSP

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