ChatGPT e a arte de fazer perguntas
Já
surgem empresas especializadas em vender 'prompts' para inteligência
artificial.
O nome é péssimo: ChatGPT.
Apesar disso, o ChatGPT pegou.
Em janeiro de 2023 essa inteligência
artificial capaz
de processar textos atingiu 100 milhões de usuários.
Nada mal para uma
ferramenta lançada oficialmente em 30 de novembro de 2022.
É difícil pensar em outra plataforma na internet que tenha
conseguido 100 milhões de usuários em pouco mais de um mês do lançamento.
Para quem ainda não está familiarizado, o ChatGPT é capaz de
responder perguntas, conversar, contar estórias e piadas, organizar e resumir
textos, escrever roteiros de vídeo, ensaios e assim por diante.
Ele foi treinado com boa parte do conhecimento humano disponível
online até 2021 e é capaz de falar fluentemente de futebol a temas técnicos ou
acadêmicos.
Com tantas capacidades, a pergunta que tem sido feita por muita
gente é: como usar o ChatGPT na prática?
O ponto-chave para responder essa
questão é o chamado "prompt", ou em outras palavras, a pergunta que é
formulada para a plataforma.
O ChatGPT é inerte até que o usuário entre algum
texto, pergunta ou afirmação, para provocá-lo.
A qualidade da resposta depende diretamente da qualidade da
pergunta.
Perguntas óbvias vão gerar respostas óbvias. T
anto
é assim que estão surgindo empresas especializadas em criar e vender
"prompts" para plataformas de inteligência artificial como o ChatGPT.
A consequência é que a arte de escrever "prompts" está se tornando
uma nova forma de programação. Mais acessível a pessoas sem conhecimento
técnico, é verdade, mas igualmente complexa se a ideia é gerar resultados
também complexos na interação com uma inteligência artificial.
Uma das especulações é que o ChatGPT é uma ameaça ao trabalho acadêmico. Isso porque os
alunos podem facilmente responder a provas e fazer trabalhos acadêmicos com o
ChatGPT.
Ele é a cola perfeita, o Santo Expedito dos preguiçosos.
Como
professor adotei uma postura inversa. Na minha aula no Schwarzman College o uso
do ChatGPT é obrigatório.
Todos os trabalhos DEVEM ser feitos por ele. No
entanto, a nota vai ser dada pela qualidade dos "prompts" que os
alunos fizeram para chegar no resultado.
Em outras palavras, vou dar a nota
pela qualidade das perguntas, e não da resposta.
A arte de fazer bom um prompt não é nada simples.
Primeiramente vale lembrar que o ChatGPT funciona também para matemática e
programação.
Nesses campos sua utilidade é inegável. Por exemplo, um
programador pode usar a plataforma para encontrar erros em um código, ou pedir
para a plataforma reescrever o código de forma mais curta. Já no campo das
humanidades uma dica é escrever prompts mais complexos, utilizando parâmetros.
Por exemplo, em vez de fazer uma pergunta simples, fazer uma qualificada da
seguinte forma: "Tópico: Política externa brasileira; Contexto: Trabalho
acadêmico; Demanda: Escrever a estrutura do trabalho; Linguagem: Acadêmica;
Tom: Formal".
Dá para brincar com os parâmetros e obter
resultados totalmente diferentes.
Por exemplo, escrevi o seguinte prompt:
"Tópico: Política externa brasileira; Contexto:
Programa de TV; Demanda: Escrever uma piada; Linguagem: Informal; Tom:
Comédia".
O resultado foi: "Por que a política externa brasileira
sempre se parece com um jogo de xadrez? Porque sempre tem algum país jogando
com o Brasil como peão".
Durma com essa.
RONALDO LEMOS -
advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro.