Ou o Brasil acaba com a polarização
ou a polarização acaba com o Brasil
O
episódio de Roberto Jefferson atacando com granadas e tiros de fuzil policiais
federais que foram executar ordem de prisão contra ele é mais um exemplo do
desarranjo que líderes irresponsáveis criaram no país.
Jefferson foi aliado de Lula e do PT e cumpriu prisão por seu envolvimento no
mensalão.
Mais
recentemente, em 08/2021, agora como membro da tropa de choque de Bolsonaro,
foi preso por usar milícias digitais para atacar instituições e o processo
eleitoral.
Em janeiro, Moraes liberou-o para cumprir prisão domiciliar desde
que respeitasse medidas cautelares, que ele não respeitou.
A gota d’água foi um
vídeo publicado por sua filha Cristiane Brasil nas redes sociais em que ele
chama a ministra do STF, Carmén Lúcia, de “prostituta”, “arrombada” e “vagabunda”.
A
ordem está desmoronando no país. Se este processo não for revertido, caminhamos
para a anarquia.
A maioria no Brasil parece convencida de que nenhuma
instituição presta. Portanto, não precisa ser respeitada.
Cada um tem o direito
de fazer o que bem entender.
A
esculhambação no Brasil começou com a reversão da condenação de Lula pelo STF.
O senso de justiça foi para o espaço.
Desde
então, Bolsonaro aproveita o fato para descredibilizar a Justiça e o processo
eleitoral - o que lhe é conveniente considerando-se investigações de denúncias
de corrupção contra seu próprio governo e sua família e o risco de derrota nas
eleições.
Para
completar, a Justiça abusa de seus poderes e o Congresso é indiferente à
população, reforçando a narrativa.
O
Brasil sente-se rachado por todos os lados: minorias contra maiorias, pobres
contra ricos, Executivo contra Legislativo e/ou contra Judiciário, governo
federal contra estados e municípios e, principalmente, bolsonaristas contra
lulistas.
Neste
processo tudo - saúde, educação, justiça, economia etc. - foi politizado.
Discussões técnicas ficam de lado e a credibilidade das instituições cai cada
vez mais.
Muitos
apoiadores de um lado e de outro parecem convencidos de que estão em uma guerra
santa.
Qualquer prova contra seu salvador só pode ser parte de uma conspiração
contra sua luta sagrada para salvar o país do mal representado pelos
adversários políticos.
Como
já disse diversas vezes, a economia brasileira tem tudo para ter um desempenho
melhor do que a maioria imagina no ano que vem.
Dificilmente, um próximo
governo Bolsonaro ou Lula errarão tanto tão rapidamente para impedir que isto
aconteça.
O
que me preocupa não é a economia, ao menos não em 2023. O que me preocupa é
mais fundamental: democracia, estabilidade institucional, justiça e respeito à
lei; todos cada vez mais frágeis.
Em
si só, estes já são valores tão importantes quanto a economia. Além disso, se
continuarem a ser fragilizados, vão acabar enfraquecendo substancialmente
também a economia e indicadores sociais por melhores que sejam as políticas
econômicas e sociais do próximo governo, seja quem for o próximo Presidente.
Ricardo Amorim
- autor do bestseller Depois
da Tempestade, o economista
mais influente do Brasil segundo a revista Forbes.