Para o Nobel, a Inteligência Artificial é a nova
dinamite
Empresas atuando
em IA anunciaram que vão apostar no uso da energia nuclear para alimentar seus
datacenters
O prêmio Nobel sempre esteve ligado a
transformações tecnológicas. Afinal, foi criado pelo químico e engenheiro sueco
Alfred Nobel, o inventor da dinamite.
A tecnologia desenvolvida em por ele em
1867 levou a avanços na construção civil e na mineração. Foi também usada em
guerras e conflitos armados.
Em 1888 seu irmão Ludvig faleceu. O jornal francês
Le Figaro se confundiu e publicou um obituário de Alfred Nobel, chamando-o de
"o mercador da morte".
O obituário fake causou um impacto profundo em
Alfred, que decidiu dedicar parte da fortuna para criar o prêmio Nobel.
Destacando assim conquistas positivas e avanços em várias áreas.
Corte para 2024. O prêmio Nobel acaba de ser
anunciado. Uma outra tecnologia explosiva aparece em várias categorias da
premiação: a inteligência artificial (IA).
Tal como a
dinamite, a IA tem o potencial de gerar avanços em diversas áreas. Mas também
traz riscos como concentração, desemprego ou armas autônomas e biológicas.
Na física, o prêmio foi para John Hopfield e
Geoffrey Hinton. Ambos tiveram um papel importante no desenvolvimento do
aprendizado de máquina e das redes neurais, que são a base da IA atual.
Hinton
tem sido nos últimos anos um dos maiores críticos da IA, alertando sobre os
riscos e pedindo a desaceleração da tecnologia.
Na química os vencedores são os criadores do
AlphaFold, a IA capaz de prever a estrutura de proteínas com alta precisão.
A
tecnologia, criada pelo Google, permite o desenho computacional de novas
proteínas com aplicações em áreas como medicina, nanotecnologia e ciências
ambientais.
Na economia venceu o brilhante economista Daron
Acemoglu e seus associados. Acemoglu é outro crítico da inteligência
artificial.
Ele desfaz, por exemplo, a ideia de que a IA leva ao aumento da
produtividade. Em maio ele publicou um estudo mostrando que o ganho de
produtividade trazido pela IA será de menos de 0,53% nos próximos 10 anos, além
do risco de aumentar a desigualdade de renda entre capital e trabalho.
Na superfície, esses foram os três prêmios
relacionados à inteligência artificial. Mas há um outro que está conectado
indiretamente ao tema.
O Nobel da paz deste ano foi dado à organização Nihon
Hidankyo, fundada por sobreviventes da bomba atômica de Hiroshima.
A organização luta contra a existência de armas
nucleares e seus integrantes têm sido críticos também à expansão do uso da
energia nuclear, especialmente após o desastre de Fukushima.
Três dias após a divulgação do Nobel de 2024,
empresas atuando em inteligência artificial anunciaram que vão apostar no uso
da energia nuclear para alimentar seus datacenters.
A ideia é construir novos
reatores e reativar plantas nucleares que haviam sido desativadas (uma delas
por conta de um acidente em 1979).
Minha visão: espero que no futuro a energia
renovável seja preferida à energia nuclear para alimentar a IA. Essa escolha
está mais em sintonia com os princípios do Prêmio Nobel.
RONALDO LEMOS - advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e
Sociedade do Rio de Janeiro.