Inteligência que transborda das lives é um dos marcos desta era


Pode parar para assistir porque estamos diante de um fenômeno.

O futuro do marketing é conteúdo. Isso vinha sendo dito havia tempos. Agora, acelerou.

Todo domingo estou estagiando nas lives. Elas viraram a cara da comunicação do momento, tanto que já estão metendo o pau. Respeito. Faz parte. Mas a querida Regina Casé diz algo que eu amo: ser pop é gostar das coisas. Muitas vezes as pessoas acham que ser cool é ficar falando mal. Eu adoro as novidades.

Tenho visto lives fabulosas. As do Zé Mauricio Machline com grandes da nossa música popular, as cultas de Bruno Astuto, as da Silvia Braz, que faz entrevista culinária com a família da moda e mostra que esse troço é TV.

As lives-missa do padre Fábio de Melo no domingo, assistidas por 100 mil pessoas. As da Angélica, que medita com centenas de milhares. Pode parar para assistir porque estamos diante de um fenômeno. Já vi live do Jorge Paulo Lemann, da Paula Lavigne, do FHC, do Bill Gates, da Naomi Campbell. Tem de tudo, e tudo de graça.

Quando comecei o portal iG, um dos primeiros da internet brasileira, muitos perguntavam: ‘Será que esse negócio de internet dará certo?’. A live é um embrião de uma outra televisão. Ela não vai aniquilar nem superar outros meios de comunicação. Vai refrescar, trazer novos ângulos.

E não vamos minimizar a TV, o rádio, a imprensa. Pelo contrário. Eles ganharam audiência e engajamento nesta hora fundamental e têm tido papel extraordinário. Esse tipo de postura highlander de que você tem que cortar a cabeça do outro para sobreviver é uma bobagem.

As pessoas estão trancadas em casa. Com as lives, ganham uma varanda para escapar da loucura. E é bacana ver a TV correndo atrás. O Pedro Bial vai fazer live. A live da Ivete Sangalo na Globo bateu em determinados momentos a audiência de alguns dos maiores programas da TV. O BBB já tinha caminhado nessa trilha ao trazer influenciadores digitais para a casa. Deu 1 bilhão de votos!

Com as lives, estamos emulando “Decameron”, a obra-prima de Boccaccio, que coloca os personagens contando histórias para passarem o tempo em seu confinamento na Peste Negra em Florença, no século 14. As lives são isso, no século 21.

Pessoas que estão desconectadas porque não podem sair à rua estão se reconectando via lives. A humanidade diante de dificuldades encontra novas saídas. Sempre foi assim.

Ray Dalio, 70, um dos maiores financistas do mundo, é hoje também um homem do digital, da conexão, e diz que a saída desta crise é a criatividade humana. Lembra aquela imortal frase do Hemingway, de que o ser humano pode até ser destruído, mas jamais será vencido.

Não tem só coisas horrorosas nessa pandemia. Tem dignidade, tem altruísmo, tem solidariedade, tem gente que vai morrer no front para que as pessoas sobrevivam. Esse vírus chama a gente à solidariedade.

Aproveite as lives para aprender, para distrair. Porque o futuro sempre aparece sem bater na porta, de cara feia, desarrumado. O futuro aparece desorganizado e depois reorganiza e surpreende a humanidade.

Tenho feito três lives consecutivas todo domingo a partir das 18h. Já entrevistei Doria, Mandetta, Cármen Lúcia, Huck. No dia da Anitta, 268 mil pessoas assistiram. Não sei como a live vai evoluir. Depois que isso tudo passar, e vai passar, boa parte das lives desaparecerá. Ou não. Eu mesmo, com tanta demanda na vida profissional e pessoal, não sei se continuarei.

Mas sei que toda essa inteligência compartilhada que transborda das lives é um dos marcos desta era. Todo o mundo está falando. Falar é compartilhar. Compartilhar é unir. E unir inteligências é o que precisamos para superar este momento.

Nizan Guanaes - empreendedor, criador da N Ideias​.

Fonte: coluna jornal FSP

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