Nós humanos gostamos de pensar
que somente um cérebro tão avantajado como o nosso deve ser capaz de lidar com
conceitos abstratos como dividendos e debêntures, necessários para transações
financeiras complexas. Até o conceito de dinheiro um objeto que só tem valor
se houver um consenso arbitrário sobre ele deve ser elaborado demais para
donos de cérebros menores. Ou não?
A psicóloga Laurie Santos, da
Universidade Yale, há alguns anos instituiu um "mercado macacal" para
estudar que tipos de decisões macacos tomariam com dinheiro nas mãos. A
resposta? Macacos tomam decisões financeiras surpreendentemente semelhantes às
que nós tomamos.
Vamos começar do começo. Macacos
aprendem o conceito de dinheiro entregando fichas não comestíveis e nada
interessantes a mãos humanas para serem trocadas por pedaços de frutas secas.
Eles preferem entregar suas fichas a humanos que oferecem "promoções"
do tipo 2-por-1; roubam fichas uns dos outros e até dos pesquisadores; e também
trocam fichas entre si por... sexo.
Mais surpreendente, no entanto,
são as decisões econômicas mais complexas, envolvendo riscos, tomadas pelos
macacos. Face a um humano que entrega sempre uma uva pela ficha, e um segundo
humano que metade das vezes entrega duas uvas e metade das vezes, nenhuma, os
macacos preferem entregar suas fichas ao primeiro "vendedor" embora
o retorno econômico, no fim das contas, seja o mesmo em total de uvas. Um ganho
certo é preferível ao risco de não ganhar nada.
Mas, ao contrário, os macacos
preferem o risco de uma perda maior à certeza de perder só um pouquinho:
entregam suas fichas ao "vendedor" incerto, que oferece duas uvas mas
ora entrega as duas, ora nenhuma, e não ao vendedor consistente que oferece
duas e sempre entrega apenas uma.
Em todos os casos, o retorno é
semelhante: em média, fica-se sempre com uma uva por transação. Se não faz
sentido preferir um vendedor ao outro, faz ainda menos sentido preferir a
segurança do ganho mas o risco da perda. Irracional, certo?
Sim e exatamente tão
irracional quanto nós. O comportamento econômico dos macacos é uma reprodução
fiel do comportamento econômico humano, movido por avidez por recompensas, mas
repulsa por perdas. Para o cérebro, perder e ganhar não são dois lados da mesma
moeda, e sim duas balanças diferentes.
Suzana Herculano-Houzel - neurocientista, professora da
UFRJ, autora do livro "Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor"
(ed. Sextante)