Bem sei que o
tema que abordaremos contém alguma dose de radicalismo, mas muitas vezes isso é
preciso para colocar a discussão num plano mais palatável: somos favoráveis a
postura do governo (em todos os níveis) sair de tudo onde a iniciativa privada
possa atuar. Estamos falando especificamente de concessões e privatizações no
âmbito federal, estadual e municipal.
Quando falamos
dessa forma é claro que a polêmica está colocada. Faz sentido a Petrobras ser
estatal? Faz sentido a Eletrobrás, Banco do Brasil, Caixa econômica e Correios
serem estatais?
Qual o sentido
de manter os Correios prestando serviços arcaicos e dar prejuízo
consistentemente? Como explicar que algumas controladas da Eletrobrás gerem
pouca ou quase nenhuma energia e mantenham quadros de funcionários de quando os
reservatórios não estavam secos.
- Temas prioritários para o
governo
Esse é um tema
na ordem do dia das prioridades desse ou do próximo governo. Sabemos da
ineficiência governamental para gerir essas empresas, assim como hoje temos
completa consciência de como essas empresas foram usadas para a corrupção (não
tínhamos a dimensão que isso tomou) e enriquecimento ilícito de muitas pessoas.
Sabemos também
que o governo não tem como prover recursos de forma adequada para as empresas
para suportar programas de investimento, aumento da produtividade e
competitividade.
Todos os
programas de partidos, por exemplo, falam de que o Estado tem que prover água e
esgoto para a população. Como fazer isso, se é atribuição de estados e
municípios, e quase todos estão praticamente falidos, com raras exceções?
- Discurso longe da
realidade
O discurso
fica bonito e a prática inexequível. Não há como prover serviços nesse ambiente
de penúria, onde a iniciativa privada e investidores externos poderiam estar
presentes de forma eficiente. Como explicar a Sabesp e outras tantas da área
serem estatais?
A questão
parece ser a seguinte. Não basta fazer um arremedo de reforma da previdência. É
preciso fazer bem mais que isso, e dentre as prioridades está a de reduzir o
tamanho e a influência do Estado na economia brasileira.
Com alguma
modernização e certas regras deveríamos estar praticando a celebre frase de D.
João VI que “queria a abertura dos portos as nações amigas”. Nossa economia e
extremamente fechada e somente em condições de competitividade é que a
produtividade aparece.
- Ineficiência e muitas
dificuldades: do discurso para a prática
O que adianta
o petróleo ser nosso se não temos condição de explora-lo? No futuro outras
fontes de energia serão mais utilizadas e teremos perdido o tempo de explorar,
beneficiando a população dessa fonte de receita. Nossa população morre diariamente
por falta de saneamento básico, enquanto políticos e partidos continuam por
décadas discursando sobre isso.
Enquanto isso
acontece, não conseguimos nem mesmo melhorar a equidade de tratamento da
previdência pública e privada.
A proposta é
que temos que passar do discurso para a prática, e isso começa pelo Estado
moderno e eficiente. É o que teremos que perseguir pelas próximas décadas, até
que essa mentalidade esteja incorporada nos dirigentes e na sociedade.
Conclusão
Bem sei que
não há no momento ambiente para pensarmos na privatização da Petrobras, mesmo
com o mau uso recente. Porém, é bom firmar o conceito que, no futuro, pode ser
incorporado.
Um mercado de
capitais eficiente no país daria conta fácil de todo essa transição do público
para o privado com enorme eficiência na alocação dos recursos.
Só lembrando
que o Estado tem que sair de todas as atividades onde a inciativa privada pode
figurar. Giordano Bruno dizia “que ilusão a minha de achar que quem
detém o poder vá reformá-lo”.
Mas não custa
sonhar!!
Alvaro Bandeira -
economista chefe do Home Broker modalmais, atua há mais de 40 anos no mercado
financeiro, foi presidente da Bolsa Brasileira de Futuros (BBF), Presidente da
Apimec, conselheiro da BVRJ e de empresas de capital aberto. Além de contribuir
ativamente com artigos e entrevistas para os diversos veículos de economia e
finanças pessoais deste país.
Fonte: site dinheirama