Investimentos
automáticos ou programados: o diabo nos detalhes
É importante saber que a tecnologia não substitui o seu trabalho de
entender as próprias necessidades e buscar as melhores oportunidades.
Já virou praxe no mercado financeiro dizer que consistência a longo
prazo supera a intensidade no curto prazo.
A tradução é que é melhor investir um pouco sempre do que deixar
uma bolada numa aplicação e esquecer dela.
A frase incentiva o investidor a começar logo, não esperar juntar
dinheiro para começar a aplicar, e a ter disciplina com seus investimentos.
Além disso, quem está sempre olhando seus investimentos poderá encontrar boas
oportunidades, ao contrário de quem deixa o seu dinheiro em uma aplicação
“eternamente”.
Ficar de olho nos investimentos todo mês, toda semana ou todo dia, no
entanto, dá trabalho. Investir é um trabalho em si.
É preciso estudar as
opções disponíveis, o momento, traçar os seus planos. Tudo isso toma tempo.
Assim como você não fecha a compra de um carro após só ler o anúncio,
não deveria colocar seu dinheiro em um produto só porque ouviu dizer que aquele
era um bom negócio. É preciso entender a lógica.
Depois de compreendida a lógica de como cada opção se adequa ao seu
plano e perfil, existem ferramentas que podem facilitar e tornar o ato de
investir um hábito. Uma delas é a aplicação automática, outra é a
No caso da tal aplicação automática, que parece ter entrado e
já saído de moda, os bancos dão a opção de colocar o dinheiro que está parado
em conta corrente em um produto investimento.
Parece legal, desde que você não
vá movimentar a conta corrente.
Como, ao movimentar a conta, você saca da aplicação, o resultado desse
tipo de investimento em uma conta movimentada normalmente tende a ser
baixíssimo.
Se você não pretende mexer no dinheiro, então o ideal seria
investir propriamente, de forma que você não mexa a não ser por necessidade (ou
para fazer um novo e melhor investimento).
Já no caso dos investimentos programados, oferecido por diversos bancos
e corretoras, como Itaú, Bradesco, você tem a opção de programar um aporte em
determinados investimentos de forma semanal ou mensal.
Caso seja em uma conta
de investimentos, é preciso antes programar a transferência da sua conta
corrente para a conta de investimentos, mas isso é a parte mais simples.
A parte mais complexa é, como sempre, escolher o produto. No caso de
quem está fazendo a sua reserva de emergência (o primeiro passo
para investir), é mais simples.
Como a recomendação é que esse dinheiro fique
em investimentos mais conservadores e com liquidez, para não haver surpresas e
ser sacado a qualquer momento de necessidade, é mais fácil escolher um produto
e deixar a tecnologia fazer o serviço dela.
Quando esse cofrinho encher, ou seja, a reserva chegar no valor
planejado, é hora de aumentar o leque. Aí a escolha é mais difícil.
No caso da compra programada de ativos como ações, fundos e ETFs,
permitido em bancos como Itaú, Bradesco é preciso ter em mente a volatilidade
dos preços antes de fazer uma opção.
Por mais que a estratégia chamada de “buy
and hold”, de comprar e guardar o ativo, sem especular com ele, tenha como
pressuposto a valorização dos ativos em longo prazo, a volatilidade pode fazer
com que ver suas aplicações dando frutos seja ainda mais demorado.
Em exemplo prático: Se você tivesse uma compra programada de ações da
Petrobras PN (PETR4) todo início de mês, em março, teria comprado os papéis
logo antes da queda que já vinha sendo apontada por analistas.
Por isso, há investidores que escolhem acompanhar carteiras recomendadas
por áreas de análise das instituições (como da XP, do Itaú, do BTG Pactual ou
da Guide) ou pelas chamadas casas de research (como Eleven, Nord ou Benndorf).
É uma estratégia mais especulativa do que focada em acumular ações de uma
companhia.
Nesse sentido, uma boa novidade veio do BTG, que oferece as carteiras
automáticas de ações e fundos imobiliários (FIIs).
A cada mês,
quando a área de análise do banco refaz as carteiras de ações recomendadas, os
investidores que decidem acompanhar as recomendações do banco já têm a troca
automaticamente feita nas suas aplicações.
Assim, o investidor acompanha o
momento considerado certo pelos analistas para entrada ou saída de um papel.
As possibilidades de investimentos chamados automáticos estão aí e, com
o avanço da tecnologia e do interesse do brasileiro em investimentos, devem se
tornar ainda mais comuns.
O importante é saber que a tecnologia não substitui o
seu trabalho de entender as próprias necessidades e buscar as melhores
oportunidades. O que ela faz é facilitar sua tomada de decisão.
MARCOS de VASCONCELLOS - Jornalista,
assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado e do Monitor
Investimento.
Fonte: coluna jornal FSP