As pessoas resistem a tudo, menos à promessa de uma vida melhor
sem nenhum sacrifício. Populistas prosperam abusando da incapacidade da maioria
- mesmo a maioria inteligente e bem preparada - de distinguir alguém capaz de
expressar muito bem nossas raivas e frustrações de alguém que tenha a solução
para elas.
Carismáticos, eles costumam estimular o culto a suas figuras
messiânicas. Salvadores da pátria, eles vêm para resgatar cidadãos pobres,
desprotegidos e incapazes de construir seus próprios destinos das “forças
opressoras” de lideranças políticas anteriores. Um bom teste para reconhecer um
populista é verificar se surgiu algum movimento batizado em sua homenagem. Do
Getulismo ao Peronismo, passando pelo Macartismo, o teste continuou funcionando
com o Kirchnerismo, o Chavismo ou o Lulismo e, mais recentemente, com o
Trumpismo.
Populistas não se importam com ideologias políticas. Eles as
manipulam em benefício próprio. O que os distingue de outros políticos e os une
são tanto a capacidade de diagnosticar com precisão ímpar a dor de muitos,
quanto a de prescrever tratamentos indolores, gratuitos e às vezes até
agradáveis, mas tão eficazes quanto um tiro na testa.
O coquetel que salvaria o país e sua população oprimida é sempre
o mesmo.
Comece sobretaxando produtos estrangeiros e/ou impedindo a
entrada de imigrantes para “proteger os interesses nacionais e os empregos de
seus cidadãos".
Em seguida, aumente substancialmente os gastos do governo com
políticas sociais, funcionalismo e/ou gastos em infraestrutura. A população
sentirá inicialmente que sua vida melhorou, apoiando o líder de plantão. Para
garantir ainda mais apoio político e crescimento econômico, distribua isenções
fiscais e cortes de impostos.
Para terminar, demonize minorias que não o apoiem. Eles são os
culpados pelas dores da população. Pior, não querem que a situação melhore para
os demais. São eles que impedem o “progresso” que você, líder iluminado, quer
trazer. Escolha seus demônios favoritos entre “as elites”, chineses, mexicanos,
muçulmanos, judeus, homossexuais, negros, asiáticos, latinos....
Pronto. Pegue seu crachá do Clube dos Populistas e curta os anos
iniciais de euforia com sua poção mágica. Inicialmente, os estímulos econômicos
aceleram o crescimento e as políticas redistributivas aumentam ainda mais o bem
estar de muitos, gerando confiança de que o país está no caminho certo, o que
impulsiona ainda mais a economia.
Populistas não se importam com
ideologias políticas.
Eles as manipulam em benefício
próprio.
Alguns anos depois - ou vários anos depois, se as condições
externas ajudarem - a conta inexoravelmente chega.
Sobretaxar produtos estrangeiros e proibir a entrada de
imigrantes aumentam o preço dos produtos e os salários, alimentando a inflação.
Isto causa elevações dos juros e redução do crédito, forçando consumo e
investimentos a recuarem e piorando os resultados das empresas, o que as leva a
demitir funcionários. O aumento do desemprego reduz ainda mais a capacidade de
consumo da população, piorando o resultado das empresas e causando ainda mais
desemprego, em um círculo vicioso.
Em paralelo, o aumento dos gastos públicos e a queda da
arrecadação de impostos devido às isenções fiscais e agravada pelo
enfraquecimento da atividade econômica provocam um aumento descontrolado do
déficit das contas públicas. Isto mina a confiança de investidores e poupadores
na capacidade do governo de honrar seus compromissos financeiros, causando fuga
de capitais e uma crise financeira, aprofundando a recessão.
Para completar, neste momento, costumam vir à tona escândalos de
corrupção causados pela relação distorcida entre o governo e o setor privado, à
medida que o governo e seus governantes cada vez mais inserem seus tentáculos
na economia diretamente ou indiretamente através de redefinições de
regulamentações e políticas públicas.
Qualquer semelhança com o legado da “Nova Matriz Econômica”
Dilmista não é mera coincidência...nem com o que está começando a ser
construído pelo "Make America Great Again" de Donald Trump.
O tempo deixou claro que Lula e Dilma prestaram um desserviço ao
Brasil e à própria esquerda que os apoiou. Ele fará a mesma coisa com relação a
Trump, os Estados Unidos e as parcelas da direita que hoje o apoiam.
Aliás, após o fracasso retumbante do Lulismo, Chavismo,
Kirchnerismo, se a esquerda mundial pudesse pensar em um plano perfeito para
desmoralizar também a direita seria difícil pensar em um melhor do que eleger
Donald Trump presidente americano.
Ele adota as mesmas políticas equivocadas da esquerda populista
(protecionismo, desequilíbrio das contas públicas, capitalismo de compadrio),
mas se você apontar que o rei está nu será acusado de esquerdista. Daí, os
estímulos econômicos excessivos geram alguns anos de crescimento econômico
acelerado e euforia, atraindo ainda mais apoio dos incautos, como nos anos
Lula. Quando os desequilíbrios econômicos inevitavelmente vierem à tona e
causarem uma grave crise econômica, milhões de desempregados e uma enorme
desilusão, a esquerda vai poder dizer que as propostas da “direita” não
funcionam. Brilhante!
Ricardo Amorim
- autor do bestseller Depois daTempestade, apresentador do ManhattanConnection da Globonews.