Liberar
o acesso universal e gratuito ao WhatsApp durante a crise é medida essencial
que deveria ser tomada já
Um dos poucos aspectos positivos da crise atual é que
ela precipita a colaboração entre pessoas comprometidas a trabalhar em soluções emergenciais.
Isso aconteceu, por exemplo, no setor de tecnologia.
Boa parte das lideranças do setor no Brasil está desde
meados da semana passada unida em grupos formados na internet, debatendo ações
que podem ser tomadas para que a tecnologia ajude neste momento difícil.
Listo abaixo algumas das propostas que emergiram dessa
conversa até agora. Todos os pontos estão em aberto para sugestões e
aperfeiçoamento. Para lidar com uma crise dessa magnitude, é preciso dados.
Nesse sentido, vale lembrar que as teles e outras
empresas de tecnologia têm hoje condições de estabelecer a localização precisa
de cada pessoa que possui um aparelho de celular e seus deslocamentos.
É possível usar essa informação —respeitando a
privacidade— para tomar medidas que auxiliem o isolamento social e também para
garantir o funcionamento sem interrupções de serviços essenciais
que não devem parar.
As teles e todas as empresas que possuem dados como esse
precisam desde já criar protocolos imediatos para dar acesso a essas
informações diretamente aos governos estaduais e municipais, que são quem têm a
responsabilidade de coordenar esse esforço ao nível local.
Outro ponto essencial é a questão do fluxo de
pagamentos, assegurando que as pessoas mais pobres tenham acesso a auxílio de
renda emergencial. Nesse contexto, vale lembrar que um em cada três brasileiros
não tem conta bancária. São justamente os mais vulneráveis.
Para eles, é preciso soluções imediatas. Por exemplo,
acelerar o processo de implementação de pagamentos digitais via redes sociais e
WhatsApp, que estavam em curso. E também utilizar a estrutura de créditos de
celular —hoje onipresente para quem tem conta de celular pré-paga— para transferir
dinheiro. Isso já acontece há anos no Quênia e em outros países. Pode ser
implementado em caráter de urgência no Brasil com grande efetividade.
Outra questão é garantir à população mais carente o
acesso básico a comunicação. A maioria das pessoas, apesar de ter celular, não
tem internet assegurada.
Nesse sentido, liberar o acesso universal e gratuito ao
WhatsApp durante o período da crise (e outras redes sociais amplamente usadas)
—mesmo que de forma básica, permitindo acessar só texto e áudio— é medida
essencial que as empresas de tecnologia, ao lado das teles, podem e deveriam
fazer imediatamente. Ou ainda assegurar cobertura 3G universal e aberta neste
período. São medidas essenciais.
Outro desafio —como apontado por Armínio Fraga e Marcos Lisboa—
é garantir o lado da oferta. De nada adianta ter R$ 200 a mais por mês se não
há o que comprar com esse dinheiro.
As empresas de tecnologia atuando em logística reversa
podem contribuir nisso, como Eu Entrego, sem falar no Rappi, na Loggi, na
CargoX e em todas as empresas de online to offline (O2O) do Brasil.
Felizmente, essa conversa já começou. Uma das medidas
será criar pontos de armazenamento e coleta auto-organizados para facilitar a
distribuição, como aconteceu na China. E também, como a China demonstrou,
contar com as empresas locais de tecnologia é fundamental para sair
desse desafio enorme.
Ronaldo Lemos | advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e
Sociedade do Rio de Janeiro.
Fonte: coluna jornal FSP